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Máquinas ao serviço das indústrias criativas

Revista Macau
Edição nº 106
  • O número de máquinas de venda automática de lembranças criativas “Made in Macau” tem vindo a aumentar nos últimos anos (Foto: Instituto Cultural)

  • A Meet Culture opera uma rede de cerca de 40 máquinas de venda automática em Macau, instaladas em locais turísticos estratégicos (Foto: Direitos Reservados)

  • A histórica Pastelaria Choi Heong Yuen é uma das parceiras da APE, especializada na operação de máquinas de venda automática, para a comercialização de lembranças alimentares (Foto: Direitos Reservados)

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Outrora simples pontos de comercialização de snacks e bebidas, as máquinas de venda automática têm hoje também um papel como embaixadoras culturais da cidade, através da comercialização de “souvenirs” criativos e outros produtos “Made in Macau”, ajudando a promover a identidade local junto de turistas de todo o mundo

Texto Vitória Man Sok Wa

Durante décadas, as máquinas de venda automática foram presença discreta em escolas, hospitais e escritórios da cidade, oferecendo ao público um acesso conveniente a bebidas e snacks. No entanto, este tipo de equipamento assumiu, mais recentemente, um novo protagonismo numa área completamente distinta: o turismo.

Ao longo dos últimos anos, tem aumentado o número de máquinas de venda automática dedicadas à comercialização de lembranças criativas e produtos “Made in Macau”. A transformação responde à crescente procura por parte de turistas de “souvenirs” inovadores e acessíveis, contribuindo para projectar uma imagem mais contemporânea da cidade: uma Macau que preserva o seu património, mas que também o sabe utilizar como inspiração para novas formas de contar as suas histórias.

Fundada em 2016, a Meet Culture Ltd. é uma das pioneiras neste campo, tendo nascido com um objectivo claro: transformar a identidade cultural da cidade em lembranças com valor estético e narrativo. Em 2017, tornou-se na primeira empresa em Macau a utilizar máquinas de venda automática para comercializar produtos não alimentares – e também a primeira a introduzir pagamentos electrónicos neste tipo de equipamento.

“Tudo começou por uma questão de racionalização de recursos”, conta à Revista Macau Miquelina Hoi, co-fundadora e directora comercial da Meet Culture. “Os mais de 30 milhões de visitantes anuais eram o nosso público-alvo e a melhor forma de promover lembranças locais era marcar presença no maior número possível de pontos turísticos.” Isso, acrescenta, levou a empresa a apostar nas máquinas de venda automática como solução estratégica, reduzindo encargos operacionais e garantindo visibilidade em sítios de grande afluência.

A empresa cria os seus produtos sob a marca “MEEET”, agrupando-os em três colecções temáticas: “MEEET Heritage”, dedicada a artigos ligados a edifícios históricos de Macau; “MEEET Gala”, que celebra festividades e eventos tradicionais da cidade; e “MEEET Fortune”, inspirada na indústria do entretenimento e lazer e nos néones locais.

A Meet Culture opera uma rede de cerca de 40 máquinas de venda automática em Macau, instaladas em locais turísticos estratégicos (Foto: Direitos Reservados)
A Meet Culture opera uma rede de cerca de 40 máquinas de venda automática em Macau, instaladas em locais turísticos estratégicos (Foto: Direitos Reservados)

Mais do que objectos decorativos, os produtos pretendem ser pequenas janelas para a identidade cultural de Macau. As embalagens incluem descrições que explicam, por exemplo, a origem das Ruínas de São Paulo ou o significado do Festival do Dragão Embriagado. Além disso, a empresa, em parceria com o Instituto Cultural, já desenvolveu no passado produtos inspirados nas colecções do Museu de Macau e do Museu de Arte de Macau.

Actualmente, a Meet Culture opera uma rede de cerca de 40 máquinas de venda automática na cidade, a que se somam quatro em Hong Kong. Em Macau, estes pontos de venda automatizados estão instalados em locais estratégicos, como o aeroporto, os terminais marítimos, a Torre de Macau e várias estações do metro ligeiro. O design das máquinas pretende ser inovador e apelativo, para captar a atenção dos visitantes.

Ao serviço da criatividade local

Enquanto a Meet Culture surgiu ligada à criação de produtos criativos e recorreu às máquinas de venda automática como meio de distribuição, a APE Smart Commerce Limited seguiu o caminho inverso: nasceu no seio do sector da tecnologia – a empresa-mãe está associada ao fornecimento de equipamento para a indústria do entretenimento e lazer – e avançou para a ligação ao sector das indústrias culturais e criativas. Lançada em 2021, especializou-se no fornecimento, design e gestão de máquinas de venda automática para marcas de Macau.

A APE não possui produtos próprios. Ao invés, tem parcerias com marcas tradicionais ligadas ao sector das lembranças alimentares, bem como com start-ups a operar nas áreas da saúde e beleza e do design. Os produtos comercializados através das suas máquinas de venda automática vão desde snacks tradicionais até artigos de beleza e lembranças criativas. A empresa colabora com o projecto “MinM Plaza”, um centro comercial promovido pela Associação Industrial de Macau localizado perto da Igreja de São Domingos e que oferece diversos produtos locais direccionados a turistas.

Um dos pontos diferenciadores da APE prende-se com a tecnologia utilizada pelas suas máquinas de venda automática. Ao contrário dos modelos tradicionais, que deixam cair os produtos comprados no tabuleiro de recolha, os equipamentos da empresa utilizam um sistema de recolha por braço mecânico, solução especialmente eficaz para artigos frágeis, como itens de pastelaria artesanal. “Nunca recebemos queixas de produtos danificados”, orgulha-se Vimi Wong, directora da área de “vending” da empresa, sublinhando a importância da experiência do consumidor para o sucesso das máquinas.

Além da tecnologia, a APE oferece um serviço de operação completo. A empresa assume a responsabilidade pelo carregamento, reposição e controlo de validade dos produtos — uma tarefa crítica no caso de artigos alimentares perecíveis. Através de um sistema digital, a equipa monitoriza diariamente os níveis de stock e as vendas, garantindo que as máquinas estão devidamente abastecidas e funcionais. “Os nossos parceiros não precisam de enviar pessoal para verificar ou repor produtos. Nós tratamos de tudo”, explica Vimi Wong.

Apoio à diversificação da economia

A APE diz pretender posicionar-se como uma parceira activa na promoção da economia criativa de Macau, apoiando marcas locais a alcançarem novos públicos com custos operacionais reduzidos. “Muitos destes criadores não têm meios para abrir uma loja física. Com as nossas máquinas, conseguem estar presentes em locais estratégicos por uma fracção do custo”, explica a directora de “vending” da empresa.

Entre os parceiros da APE está a Pastelaria Choi Heong Yuen, com 90 anos de história. Reconhecida pelos seus biscoitos de amêndoa, um dos “souvenirs” mais icónicos de Macau, a marca encontrou nas máquinas de venda automática uma nova forma de se conectar com o público.

A histórica Pastelaria Choi Heong Yuen é uma das parceiras da APE, especializada na operação de máquinas de venda automática, para a comercialização de lembranças alimentares (Foto: Direitos Reservados)
A histórica Pastelaria Choi Heong Yuen é uma das parceiras da APE, especializada na operação de máquinas de venda automática, para a comercialização de lembranças alimentares (Foto: Direitos Reservados)

“Queríamos melhorar a experiência dos nossos clientes através de um modelo de venda inovador. Ao combinar os tradicionais produtos de lembrança com tecnologias modernas, conseguimos oferecer um serviço mais prático e acessível”, afirma Alan Wong Yeuk Lai, director executivo da Choi Heong Yuen. “As máquinas funcionam 24 horas por dia, permitindo que os visitantes adquiram os nossos produtos a qualquer momento. Esta abordagem reforça a imagem da marca como acessível e inovadora, alcançando um público mais vasto”, acrescenta.

Segundo o responsável, o novo canal de comercialização trouxe maior visibilidade e contribuiu para o crescimento das vendas. “O funcionamento contínuo das máquinas permite que mais pessoas tenham contacto com os nossos produtos, o que ajudou a alargar a base de clientes”, diz. “Ainda assim, trata-se de um canal complementar, com impacto gradual — não é uma transformação imediata, mas sim uma evolução progressiva.”

A APE também desenvolveu um aplicativo para telemóveis com loja digital, que permite aos utilizadores localizarem as suas máquinas, verificarem a disponibilidade de produtos em diferentes pontos da cidade e até comprarem antecipadamente com descontos. A aplicação inclui funcionalidades como cupões de desconto, pacotes promocionais e a possibilidade de oferecer produtos a amigos – uma inovação que pretende aproximar o comércio automatizado de uma experiência mais personalizada.

Rumo ao futuro

Tanto os responsáveis da Meet Culture como os da APE reconhecem que, inicialmente, houve alguns desafios quanto à adopção das suas máquinas de venda automática. O modelo de negócio demorou algum tempo até ganhar tracção, já que, junto do imaginário popular, este tipo de equipamento ainda estava muito associado às tradicionais máquinas de comercialização de refrigerantes.

“Quando apresentei o conceito de máquinas de venda automática de lembranças aos proprietários dos espaços, a percepção que tinham era a de que seria algo rudimentar e pouco sofisticado”, recorda Miquelina Hoi, da Meet Culture. “Propusemos diferentes designs, incluindo modelos que integravam elementos visuais do próprio local, para demonstrar que este conceito podia acrescentar valor ao espaço. Isso ajudou a convencê-los.”

Ainda assim, de acordo com a APE, há sítios onde a empresa poderia “apresentar os produtos de Macau a um número ainda maior de turistas”, mas cujas administrações demonstram reticências quanto a aceitar este tipo de projecto, admite Vimi Wong. “Mas continuamos a trabalhar com criatividade para encontrar soluções que respondam às exigências desses espaços.”

A APE prepara agora a expansão para outras cidades da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e do resto da Ásia. “Queremos que as nossas máquinas funcionem como vitrines da criatividade existente em Macau – tanto para marcas consolidadas como para novos talentos”, afirma a responsável da empresa.

A Meet Culture deu o primeiro passo rumo à expansão regional em 2023, com a entrada no mercado de Hong Kong. Os planos passam por levar a cultura “Made in Macau” a outros países da Ásia Oriental. “Esta nova experiência de compra tem inspirado o mercado criativo de Macau”, resume Miquelina Hoi.


Uma janela com impacto

O Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM) já recorre a máquinas de venda automática na sua estratégia de valorização das marcas locais. O IPIM tem duas máquinas no Centro de Exposição dos Produtos de Qualidade de Guangdong e Macau, no sexto andar do Edifício Posto Fronteiriço de Macau do Posto Fronteiriço Qingmao. Além disso, existem máquinas instaladas no espaço “Macao Ideas”, na cave do Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Mais do que simples vitrines, as máquinas de venda automática ligadas ao IPIM também funcionam como “mini-laboratórios” de mercado, acessíveis às pequenas e médias empresas de Macau. A rotação periódica dos produtos permite às marcas locais testarem a receptividade dos seus artigos e explorarem diferentes abordagens comerciais. O IPIM está, entretanto, a desenvolver novos conteúdos multimédia para as suas máquinas, incluindo vídeos e elementos interactivos.

Segundo os registos de vendas, os produtos alimentares e o café lideram as preferências dos consumidores. Mas o impacto vai além das transacções: já houve casos em que comerciantes, ao descobrirem produtos nas máquinas, contactaram directamente o IPIM para iniciar parcerias com os expositores.


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