O que são zonas húmidas?
Zonas húmidas são componentes essenciais do ecossistema da Terra e tendo valor equiparado com outros dois grandes ecossistemas – Floresta e Oceano. Existem vários tipos de zonas húmidas, normalmente definidas como zonas alagadas, constituídas por água, terra e seres vivos. Considerando as zonas húmidas como ecossistemas sob controlo de águas, vulgarmente refere-se ao ambiente natural associado com zona terrestre e aquática, por exemplo, os mangais costeiros, rios, reservatórios, lagos, zonas húmidas artificiais, drenagens, entre outras.
Visto que a definição exacta varia de acordo com a região onde nos encontramos, convém considerarmos exemplos deste tipo de terras os mangais, arrozais e lagos, e mencionar a famosa Convenção de Ramsar, “A Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de Aves Aquáticas”. Esta convenção, adoptada em 1971 na cidade iraniana de Ramsar, que constitui um importante tratado internacional sobre zonas de terra húmida, foi rectificada pelos governos de um grande número de países e define a conservação e a utilização responsável das zonas de terra húmida a nível nacional e internacional. De acordo com a Convenção de Ramsar, são consideradas zonas húmidas as seguintes: áreas de pântanos; charcos; turfas e corpos de água, naturais ou artificiais, permanentes ou temporários, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo estuários, planícies costeiras inundáveis, ilhas e áreas marinhas costeiras, com menos de seis metros de profundidade na maré baixa. A partir de 1997, o dia 2 de Fevereiro foi designado como o “Dia Mundial das Zonas Húmidas”.
Valor ecológico
As zonas húmidas têm a capacidade de atenuar os efeitos das inundações, melhorar a qualidade das águas, manter o nível freático dos solos, prevenir a erosão costeira, proteger a costa contra os efeitos dos ventos fortes e a salinização, servir de habitat à flora e fauna e proteger o microclima e a estabilidade do ecossistema local. As zonas húmidas são como uma “esponja natural”. Quando chove as raízes das plantas e o solo absorvem a água em abundância, enquanto, em tempos de seca, libertam lentamente a água acumulada, mantendo os níveis de humidade à superfície e sustentando a vida em redor. As zonas húmidas ajudam a manter os nutrientes existentes na água, filtram as substâncias químico-orgânicas nocivas e outras matérias suspensas nela contidas. Devido à forma como as suas raízes se fixam ao solo, as espécies de mangal, de árvores e arbustos das zonas húmidas costeiras exercem um papel importante na protecção da orla costeira contra os efeitos do vento e efeitos erosivos das marés e da ondulação, protegendo as zonas costeiras.
As zonas húmidas são consideradas como o ambiente natural mais produtivo na Terra, nelas sobrevive uma rica biodiversidade, se reproduzem inúmeras espécies zoo-botânicas, nomeadamente as aves e os animais aquáticos, constituindo um espaço ideal para alimentação, reprodução e crescimento.
Valores das zonas húmidas
Os elementos bio-fisico-químicos produzem efeito interactivo para suportar o ecossistema no sentido de desempenhar o seu papel, estabelecendo uma estreita relação entre a vida humana, a produção e o desenvolvimento socio-económico.
Valor económico: A fertilidade dos solos e a abundância de nutrientes nas zonas húmidas permitem neles encontrar produtos marinhos e agrícolas em abundância, que os seres humanos podem consumir. Como exemplo, temos as zonas húmidas junto do delta do Rio das Pérolas, onde abundam viveiros de peixes e terrenos agrícolas férteis.
Valor paisagístico: As zonas húmidas localizam-se, com certa frequência, em locais geograficamente distintos, como os estuários e deltas dos rios ou em locais panorâmicos das cidades que, associados à abundante flora e fauna existente, formam paisagens deslumbrantes. Temos, como exemplo, a ilha artificial no lago Nam Van, onde um grande número de aves estabeleceu o seu habitat. A imagem criada ao pôr-do-sol, quando as aves regressam aos seus ninhos, conjugada com o ambiente tranquilo e as águas espelhadas do lago, é de uma rara beleza natural.
Valor educacional científico e ambiental: Muitas zonas húmidas são utilizadas como locais de observação ambiental, experimentação e elaboração de estudos científicos. A beleza natural das zonas húmidas e o seu ecossistema completo podem servir de exemplo para educar as pessoas sobre a importância da protecção do ambiente e da natureza.
Valor como local de lazer: As zonas húmidas são um importante habitat para diferentes tipos de flora e fauna, sendo, por isso, grande a sua biodiversidade. Atraem um sem número de apreciadores da natureza para observarem a sua beleza, constituindo para todos eles um local de lazer. Um bom exemplo é o mangal localizado sob a ponte Flor de Lótus, habitat e fonte alimentar para um grande número de aves migratórias, como os célebres colhereiros-de-cara-preta (Platalea minor), que ali se encontram durante o Inverno, atraindo ao local um grande número de observadores de aves.
Zonas húmidas em Macau
Macau situa-se no litoral junto ao estuário do Rio das Pérolas, dispondo de uma grande área ocupada por lodos, com excelentes condições naturais para a formação de vários tipos de zonas húmidas, como zonas húmidas costeiras (salgadas) e zonas húmidas de água doce.
Zonas húmidas de água doce:
(1) Reservatório junto ao Porto Exterior;
(2) Zona húmida junto à Avenida da Praia, Taipa, outrora zona húmida de mangue junto ao Istmo Taipa-Coloane, constituída por um lago artificial, formada após o aterro, ao lado desta é a área costeira com mangais onde descansam as graças;
(3) Reservatório junto à Taipa Grande;
(4) Reservatório de Seac Pai Van;
(5) Zona húmida de água doce de Ká Hó, única zona húmida de água doce reconstruída em Macau, com a área de 10 000m2;
(6) Barragem de Hác Sá;
(7) Barragem de Ká Hó.
Zonas húmidas salobras:
(1) Lago Nan Van, formado por aterro, agora espaço de descanso de várias espécies de garças;
(2) Mangal do Canal dos Patos;
(3) Zona húmida transfronteiriça Macau-Zhuhai;
(4) Zona Ecológica de Cotai
Zonas húmidas salgadas:
(1) Zona húmida no dique junto ao Porto Exterior;
(2) Zona húmida junto à Praia de Cheoc Van;
(3) Zona húmida junto à Praia de Hac-Sa;
(4) Zona húmida junto à Praia de Ká Hó;
(5) Zona húmida junto à costa de Ká Hó;
(6) Zona húmida junto à costa de Long Chao Kok.
Não obstante a diminuta área que tipifica o território de Macau, sem cursos de água óbvios, a floresta de montanha das ilhas é, na verdade, um excelente reservatório natural de água. Para além de a vegetação a absorver, a água da chuva infiltra-se no solo, donde, após formar lençóis de água doce, brotam nascentes ou fontes. Todo esse precioso líquido acabava por ir parar ao mar. Por essa razão, o IACM tem vindo, nos últimos anos, a utilizar métodos ecológicos, na mira de dar o melhor aproveitamento a este bem natural, mormente, construindo reservatórios nos locais mais adequados da floresta de montanha que, para além de servirem de habitat e de fonte de alimentação a todos os tipos de seres vivos, criam ecossistemas aquáticos e promovem a protecção das espécies indígenas de Macau, daí resultou a Zona húmida de água doce de Ká Hó.
As Zonas Ecológicas, administradas pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, situam-se junto à Ponte Flor de Lótus no Cotai e ocupam uma área total de 55 hectares. Procurando fornecer um ambiente adequado às aves migratórias. Dentro desta zona, foi constituída uma área para alimentação das aves com 40 hectares (Zona Ecológica II), localizada na costa oeste do Cotai e uma área de descanso correspondente aos restantes 15 hectares (Zona Ecológica I). Conforme os dados recolhidos ao longo dos anos, a riqueza da diversidade biológica e os alimentos que aí se encontram, têm atraído diversas aves residentes e migratórias para ali se alimentarem e descansarem. Existem nestas zonas 72 espécies de plantas, 20 espécies de peixe, 11 espécies de moluscos 25 espécies de insectos, e 13 espécies de crustáceos. Registaram-se, no total destas zonas, 122 espécies de aves, entre as quais se incluem algumas espécies protegidas como é o caso do colhereiro-de-cara-preta (Platalea minor), do colhereiro-europeu (Platalea leucorodia), do pigargo oriental (Haliaeetus leucogaster), entre outras.