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Brasil em busca de mais China

Revista Macau
Edição nº 85
  • A soja é uma das principais exportações do Brasil para o mercado chinês (Foto: Direitos Reservados)

  • O Porto de Santos é um dos pontos de escoamento de produtos brasileiros destinados à China (Foto: Direitos Reservados)

  • Em 2021, a China comprou 640 mil toneladas de carne de frango ao Brasil (Foto: Direitos Reservados)

  • Gráfico

  • O Brasil é presença regular nas principais feiras comerciais chinesas (Foto: Apexbrasil)

  • O sector das frutas é uma das áreas onde o Brasil quer aumentar as suas exportações para a China (Foto: Direitos Reservados)

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A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial do Brasil, posição reforçada em 2021. Entidades brasileiras ligadas ao sector da produção e exportação dizem que há potencial para as relações bilaterais continuarem a crescer

Texto Catarina Brites Soares

“As economias da China e do Brasil são complementares e, por isso, a ligação económica é superimportante”, afirma o chefe da representação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) em Xangai, Carlos Pan. Os dados de 2021 comprovam-no: o Interior da China, Hong Kong e Macau foram, em conjunto, o destino de 32,0 por cento das exportações do país sul-americano em termos de valor total, com as vendas a registarem um aumento de 28,1 por cento face ao ano anterior, de acordo com dados do Ministério da Economia do Brasil. Ao nível das importações brasileiras, o bloco chinês representou 22,0 por cento da totalidade no ano passado, com um crescimento de 36,7 por cento em termos de valor.

Os principais produtos exportados pelo Brasil para a China são sobretudo matérias-primas ou mercadorias primárias – as denominadas “commodities” –, com destaque para a soja, açúcar, minério de ferro, petróleo, celulose, carne, sumo de laranja, café e madeira. Já em sentido contrário, dominam os bens finalizados e industrializados.

A soja é uma das principais exportações do Brasil para o mercado chinês (Foto: Direitos Reservados)
A soja é uma das principais exportações do Brasil para o mercado chinês (Foto: Direitos Reservados)

“Em 2010, a China absorvia 15 por cento das vendas do Brasil”, nota Tulio Cariello, director de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China, destacando que, entretanto, a percentagem mais do que duplicou. “A China também nos garante um saldo superavitário. Em 2021, do superavit de 61 mil milhões de dólares americanos que se registou no comércio exterior, mais de 40 mil milhões de dólares americanos foram fruto de transacções com a China.”

A coordenadora de promoção comercial da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil salienta que a China assume protagonismo no que toca às exportações do agro-negócio brasileiro. No ano passado, o mercado chinês foi responsável por 34 por cento das vendas ao exterior do sector. Dados do Ministério brasileiro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento referentes a 2021, citados por Camila Sande, indicam que o Brasil exportou mais de 78 milhões de toneladas em produtos de agro-negócio para o mercado chinês, o que correspondeu a 41 mil milhões de dólares americanos. Além de soja – categoria responsável por 60 milhões de toneladas –, os outros produtos mais exportados foram carnes bovina e suína, celulose, açúcar e algodão.

Luís Rua, director de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal, reforça que a China é o primeiro aliado comercial de toda a estrutura produtiva da economia brasileira, seja no agro-negócio, na indústria de transformação ou noutras áreas. No sector a que se dedica, a China é responsável por quase 40 por cento das exportações.

No ramo da avicultura, o mercado chinês passou a liderar a tabela em 2019, quando ultrapassou a Arábia Saudita. Em 2021, o país asiático representou mais de 14 por cento das exportações brasileiras de carne de frango, ou seja, 640 mil toneladas.

O Porto de Santos é um dos pontos de escoamento de produtos brasileiros destinados à China (Foto: Direitos Reservados)
O Porto de Santos é um dos pontos de escoamento de produtos brasileiros destinados à China (Foto: Direitos Reservados)

No que respeita à carne suína, o mercado chinês ocupa o lugar cimeiro desde 2019. Actualmente, cerca de metade do que o Brasil exporta tem como destino solo chinês. “É o nosso principal mercado e sobre o qual trabalhamos com muita atenção”, sublinha Luís Rua.

Antes da denominada “peste suína africana” ter chegado à China – onde levou à morte ou abate de cerca de metade dos porcos em 2019 –, a participação brasileira no total das importações chinesas de carne suína era de 8 por cento. Agora representa quase 12 por cento. “O Brasil é a quarta principal fonte de proteína para a China”, enfatiza o dirigente da Associação Brasileira de Proteína Animal.

Tulio Cariello assinala que o Brasil “tem aumentando consideravelmente os embarques” para a China de produtos na área da agro-pecuária, como as carnes. “Apesar do grande volume de exportações, ainda somos muito dependentes de uma gama de poucos produtos, de baixo valor acrescentado”, lamenta o responsável do Conselho Empresarial Brasil-China. 

Medos à parte

As previsões oficiais indicam um desacelerar do crescimento da economia chinesa em 2022, mas Luís Rua, por exemplo, não se mostra preocupado. “A China, como o Brasil e outros países em desenvolvimento, ainda precisa de colocar muitas pessoas na linha de consumo e a carne é um dos bens que passa a ser consumido quando se alcança um rendimento maior”, afirma.

O responsável da Associação Brasileira de Proteína Animal acredita que a promessa do Governo central chinês de dirimir a pobreza no país e o fim anunciado da política do filho único acabarão por se traduzir em mais consumidores. “Por isso, não vemos grande possibilidade de recuo. Antes, o produto interno bruto crescia cerca de 10 por cento. Diminuirá um pouco, mas mesmo esse pouco – que não o é se compararmos com a média mundial – será de seis a sete por cento. É muita gente que entra na linha de consumo anualmente”, frisa. “E isso faz com que facilmente a China continue a ser um mercado com potencial durante muitos anos.”

Em 2021, a China comprou 640 mil toneladas de carne de frango ao Brasil (Foto: Direitos Reservados)
Em 2021, a China comprou 640 mil toneladas de carne de frango ao Brasil (Foto: Direitos Reservados)

Camila Sande, da Confederação da Agricultura e Pecuária, garante que o Brasil quer reforçar e diversificar a oferta. Prova disso, exemplifica, é o programa “Aterrissagem na China”, lançado no ano passado, que visa que sectores brasileiros como o do mel e derivados, produtos lácteos, cafés especiais, frutas e açaí consolidem e ampliem a presença no mercado chinês.

O “Projeto AGRO.BR” é outra das iniciativas da confederação, em parceria com a ApexBrasil, que a responsável destaca. “O objectivo é fazer com que a pauta exportadora cresça não só em volume, mas em diversidade”, explica.

Para a ApexBrasil, além de “commodities”, o país tem de investir na exportação de produtos de valor acrescentado. “O Brasil deve continuar o investimento na promoção de alimentos finalizados para a China, como vinho, café especial, mel, pescados, frutos do mar e produtos típicos, como açaí e chá-mate”, defende Carlos Pan. 

Para o responsável da delegação da ApexBrasil em Xangai, os sectores das frutas e produtos lácteos, assim como de bens de consumo – moda, joalharia e calçado – devem ser outras das prioridades. “O Brasil também tem bastantes chances de atrair os consumidores chineses pela qualidade e charme dos produtos nacionais”, vinca.

Gráfico
Gráfico

Luís Rua, da Associação Brasileira de Proteína Animal, lembra que cerca de 40 por cento da carne de frango que o país exporta tem como destino a Ásia, sendo que a China representa mais de um terço desse valor; no caso da carne suína, mais de 80 por cento das vendas seguem para a Ásia, com o mercado chinês a representar perto de metade das exportações totais do Brasil. É por isso que o responsável afirma: “A China, como o grande país da região asiática, é a nossa grande aposta”. 

Dores de crescimento

Há, no entanto, obstáculos e a COVID-19 veio agravá-los. Carlos Pan menciona a impossibilidade actual de viagens internacionais, devido à pandemia, como o principal problema a que as relações bilaterais se fortaleçam. “Isso interrompeu, por conta das restrições sanitárias, mais conhecimento e troca entre os dois países, incluindo de produtos”, especifica. A par desta situação, o representante da ApexBrasil aponta as diferenças culturais e de idioma como outros grandes desafios às empresas brasileiras que queiram singrar na China.

Luís Rua desvaloriza. “Não diria que sejam barreiras, mas coisas naturais que o processo de aprendizagem vai esbatendo.”

O sector das frutas é uma das áreas onde o Brasil quer aumentar as suas exportações para a China (Foto: Direitos Reservados)
O sector das frutas é uma das áreas onde o Brasil quer aumentar as suas exportações para a China (Foto: Direitos Reservados)

O entendimento da cultura de negócios chinesa, a adaptação aos processos administrativos da China e a percepção do gosto do consumidor local são os reptos enumerados por Tulio Cariello, do Conselho Empresarial Brasil-China. Dada a competição “muito acirrada” entre produtos e produtores, o responsável considera fundamental ter um plano de negócios bem estruturado. “O mercado chinês, apesar de grande e promissor, é extremamente competitivo, com marcas chinesas e internacionais disputando o mercado ‘centímetro a centímetro’”, afirma.

Camila Sande, da Confederação da Agricultura e Pecuária, confirma que o processo até se conseguir autorização para exportar para a China é complexo, sendo necessários vários tipos de registos. Além disso, a concorrência é, sim, algo a ter em conta, diz. “Grandes exportadores, como a Austrália, Nova Zelândia, União Europeia e Estados Unidos, têm acordos comerciais com a China, o que facilita a entrada dos seus produtos e dificulta a dos do Brasil.”


Comércio sino-brasileiro 2021

Vendas Brasil -> China
89,8 mil milhões de dólares americanos
(+28,1% em termos anuais)
Equivalente a 32,0% do valor total das exportações brasileiras

Vendas China -> Brasil
48,3 mil milhões de dólares americanos
(+36,7% em termos anuais)
Equivalente a 22,0% do valor total das importações brasileiras

(Fonte: Ministério da Economia do Brasil)


Top-3 das exportações do Brasil para a China em 2021

Minério de ferro e concentrados
28,8 mil milhões de dólares americanos

Soja
27,2 mil milhões de dólares americanos

Petróleo e similares
14,2 mil milhões de dólares americanos

(Fonte: Ministério da Economia do Brasil)


“Vemos o futuro com optimismo”, diz embaixada

A Embaixada do Brasil em Pequim prefere não fazer previsões quanto ao futuro das relações comerciais com a China, mas mostra confiança, face aos números da última década. “Tendo em conta as perspectivas económicas tanto do Brasil quanto da China, vemos o futuro com optimismo”, refere a principal representação diplomática brasileira em solo chinês.

Em resposta à Revista Macau, a embaixada recorda que a China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Cerca de uma década depois, o Brasil tornou-se o principal exportador de alimentos para o mercado chinês. Segundo dados do Ministério da Economia brasileiro, o comércio bilateral alcançou um valor total de 138,2 mil milhões de dólares americanos no ano passado. “Foi o maior em toda a história”, vinca a embaixada.

Em 2021, Brasília obteve um superavit recorde com a China de 41,5 mil milhões de dólares americanos. “O Brasil é parceiro tradicional de produtos oriundos do agro-negócio e fornecedor confiável de alimentos para o mercado chinês”, releva a embaixada. 

De Janeiro a Novembro de 2021, refere a representação diplomática, o Brasil forneceu cerca de 80 por cento do açúcar importado pela China; 66 por cento da soja; 41 por cento da carne de frango; 40 por cento da carne bovina congelada; e 16 por cento da carne suína. “Temos participação relevante também nas importações de insumos importantes para a manufactura chinesa, como o couro (36 por cento), o algodão (26 por cento) e a celulose (26 por cento). Na indústria pesada e de construção, destaca-se o minério de ferro (21 por cento)”, discrimina a embaixada brasileira em Pequim.

A entidade ressalva que, apesar do sucesso, as companhias brasileiras não devem baixar os braços. “As grandes empresas brasileiras do sector das ‘commodities’ agrícolas e minerais têm uma presença relativamente consolidada no mercado chinês. Isso não quer dizer que não haja competição, e que não precisem de investir na divulgação e em acções de promoção comercial e conquista de novos clientes.”

Quanto às empresas de outros sectores, segundo a embaixada, há “amplo espaço” para alargarem a fatia de mercado ou começarem a vender no mercado chinês – em particular, quando se trata de produtos ou alimentos processados. “Factores como a distância e as diferenças linguísticas e culturais certamente tornam mais difícil esse intercâmbio. Ainda assim, vêm sendo consolidados laços bilaterais que podem favorecer o comércio”, salienta a Embaixada do Brasil na China. “Em termos práticos, em primeiro lugar, é importante fazer com que o consumidor chinês conheça os produtos brasileiros e a sua qualidade.”

A entidade enfatiza que é crucial um trabalho de divulgação comercial constante através de eventos como a Exposição Internacional de Importação da China (CIIE, na sigla inglesa). “Depois, é preciso uma estrutura logística que permita a distribuição adequada dos produtos. Os canais electrónicos têm um papel fundamental e a China tem a grande vantagem de ser um dos mercados nos quais esses canais estão mais desenvolvidos”, conclui a embaixada.

 


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