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Grandes desafios, grandes ambições

Revista Macau
Edição nº 84
  • Central de energia solar em Nanchang, capital da província de Jiangxi (Foto: Direitos Reservados)

  • A China tem em curso diversos programas de reflorestação desenhados para reduzir a erosão do solo e a poluição (Foto: Direitos Reservados)

  • Parque de energia eólica na província de Guangdong (Foto: Direitos Reservados)

  • A China é o maior mercado mundial em volume de vendas de veículos eléctricos e híbridos (Foto: Direitos Reservados)

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A China pretende assumir um papel de liderança global no combate às alterações climáticas. Para tal, o país propõe-se a reduzir a sua “pegada ecológica” de forma acelerada

Texto  Catarina Brites Soares

A META não podia ser mais ambiciosa: a República Popular da China pretende atingir, em menos de quatro décadas, a neutralidade carbónica. A cumprir-se o objectivo, o país será, segundo as autoridades nacionais, o mais eficiente à escala mundial no que toca à redução das emissões de carbono, principal causa das alterações climáticas que ameaçam o futuro do planeta.

O rápido crescimento económico da China nas últimas três décadas, assente numa forte componente industrial, teve como efeito colateral fazer do país o maior emissor do planeta, em termos totais, de gases com efeito de estufa (embora, em termos per capita, a China apresente valores bastante mais baixos do que a maioria dos países desenvolvidos). O Presidente Xi Jinping quer reduzir a “pegada ecológica” chinesa: garantir a neutralidade carbónica até 2060 e atingir o pico das emissões de gases poluentes antes de 2030 são os principais compromissos nesse sentido.

Central de energia solar em Nanchang, capital da província de Jiangxi (Foto: Direitos Reservados)
Central de energia solar em Nanchang, capital da província de Jiangxi (Foto: Direitos Reservados)

“As mudanças climáticas são um desafio para toda a Humanidade. O desenvolvimento da nação chinesa e o futuro do planeta dependem de solucionar o problema.” O repto está no documento “Responder às Mudanças Climáticas: Políticas e Acções da China”, lançado em Outubro do ano passado pelo Conselho de Estado, o qual discrimina as políticas nacionais para converter o país numa referência capaz de compatibilizar desenvolvimento e sustentabilidade.

O tema é uma preocupação global. No ano passado, a China e os outros 195 países presentes na 26.ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), que teve lugar em Glasgow, na Escócia, alcançaram um pacto que procura evitar que as temperaturas subam mais de 1,5 graus Celsius por comparação à época pré-industrial, no seguimento do que havia sido acordado anteriormente, em 2015, através do Pacto de Paris. Pela primeira vez na história das COP, as palavras “carvão” e “combustíveis fósseis” constaram no texto final.

Novo modelo

Reduzir as emissões de gases poluentes é a prioridade das autoridades nacionais. Espera-se que, até 2060, 80 por cento da energia consumida na China provenha de fontes renováveis. Num vídeo enviado à última Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Setembro do ano passado, Xi Jinping garantiu que a China vai deixar de construir centrais de carvão noutros países.

O Governo Central assume que os desafios causados pelas mudanças climáticas são reais, severos e prolongados. “A resposta exige um esforço conjunto de toda a comunidade internacional se queremos deixar um mundo limpo e agradável às futuras gerações. A China honrará as suas promessas”, lê-se no documento “Responder às Mudanças Climáticas: Políticas e Acções da China”. Cumprir os objectivos definidos no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas está no topo da lista.

A China tem em curso diversos programas de reflorestação desenhados para reduzir a erosão do solo e a poluição (Foto: Direitos Reservados)
A China tem em curso diversos programas de reflorestação desenhados para reduzir a erosão do solo e a poluição (Foto: Direitos Reservados)

Um dos desafios do país prende-se com a sua exposição ao carvão, fonte de energia particularmente poluente. Também aí estão a ser realizados ganhos: o peso do carvão no “mix” de consumo energético da China caiu de 72,4 por cento em 2005 para 56,8 por cento em 2020, de acordo com o Conselho de Estado.

“Sendo o maior país em vias de desenvolvimento do mundo, a China adoptou uma série de medidas, políticas e acções para combater as alterações climáticas e participar na governança global ao nível do clima, apesar das dificuldades que isto cria à economia e desenvolvimento social do país”, ressalva o Conselho de Estado. No documento oficial que detalha as respostas ambientais, as autoridades nacionais afirmam que o país “está centrado no desenvolvimento de um sector energético ‘verde’ e de baixa intensidade carbónica, e em acelerar a formação de estruturas industriais, modos de produção, formas de trabalho e de vida e configurações espaciais que ajudem a conservar os recursos naturais e a proteger o ambiente”.

Investimento significativo

O académico Joseph Hun-Wei Lee nota que a China é responsável, à escala mundial, por 27 por cento das emissões de gases com efeito de estufa, mas que está em processo de mudança. “O país desenhou e tem implementado medidas significativas para combater as alterações climáticas”, afirma. O professor do Instituto de Pesquisa Ambiental da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, que é também presidente da instituição de ensino superior, destaca medidas como o controlo do consumo energético, o incentivo à produção de energia limpa e o investimento em ecossistemas capazes de absorver dióxido de carbono. A neutralidade carbónica “é uma meta ambiciosa e louvável, construída com base no progresso sólido da última década”, defende Joseph Lee.

O caminho, acrescenta, é promissor, atendendo ao compromisso que o país tem demonstrando. “Tem havido um investimento significativo para promover o desenvolvimento de novas formas de energia, veículos eléctricos e energia solar, entre outras medidas que visam a construção de uma sociedade ecológica”, considera. “Tanto a China como o mundo percebem que temos de combater as alterações climáticas em todas as frentes.”

Parque de energia eólica na província de Guangdong (Foto: Direitos Reservados)
Parque de energia eólica na província de Guangdong (Foto: Direitos Reservados)

Limitar o desenvolvimento desordenado de projectos de alto consumo energético e alta emissão de gases com efeito de estufa é uma das prioridades das autoridades nacionais. A par disso, o país está empenhado em soluções que permitam aumentar a sua capacidade natural de absorção de carbono: a China é líder global ao nível dos programas de reflorestação desenhados para reduzir a erosão do solo e a poluição.

Outro sector determinante rumo a um futuro sustentável é o dos transportes, tendo em conta que é responsável por cerca de 10 por cento das emissões de carbono do país, de acordo com a agência noticiosa oficial Xinhua. A China é já, desde 2015, o maior mercado mundial em volume de vendas de veículos eléctricos e híbridos, com uma frota superior a seis milhões de unidades, de acordo com dados de Junho de 2021, havendo planos para que todos os carros novos vendidos no país sejam eléctricos ou híbridos em 2035. Outras medidas incluem um maior recurso ao transporte ferroviário e marítimo, e a correspondente redução do uso do transporte rodoviário.

A China é o maior mercado mundial em volume de vendas de veículos eléctricos e híbridos (Foto: Direitos Reservados)
A China é o maior mercado mundial em volume de vendas de veículos eléctricos e híbridos (Foto: Direitos Reservados)

Thomas Lei Man Tat, professor assistente da Universidade de São José em Macau, assinala que Pequim está a fazer um esforço para reduzir o impacto das mudanças climáticas. O académico destaca a ambição de atingir o pico de emissões antes de 2030 e a neutralidade carbónica até 2060. “É uma promessa corajosa para um dos países com mais população no mundo. Acredito ser um objectivo exequível”, diz.

O professor do Instituto de Ciência e Ambiente da Universidade de São José releva alguns objectivos traçados já para 2030, como o aumento para 25 por cento da fatia de energia primária para consumo produzida a partir de fontes não fósseis. Outro é atingir uma capacidade instalada de produção enérgica a partir de centrais eólicas e solares superior a 1,2 mil milhões de kilowatts até 2030 – o que, explica Thomas Lei, pode reduzir consideravelmente a dependência do carbono. “A transição vai demorar, mas as metas definidas mostram que o Governo Central está determinado a combater o avanço das alterações climáticas”, diz o académico. 


Principais metas ambientais da China até 2030

1. Reduzir em mais de 65 por cento a intensidade carbónica do país face ao nível de 2005. O indicador é calculado com base na produção de gases com efeito de estufa por unidade de produto interno bruto

2. Gerar 25 por cento do consumo total de energia do país a partir de fontes não fósseis

3. Aumentar o volume de densidade florestal em seis mil milhões de metros cúbicos em relação ao nível de 2005

4. Aumentar a capacidade instalada de produção de energia eólica e solar para mais de 1,2 mil milhões de kW


Aposta nos créditos de carbono

A CHINA criou no ano passado aquele que é já o maior mercado de créditos de carbono a nível mundial, com o objectivo de promover a redução das emissões de gases com efeitos de estufa. Lançado em Julho e com base em Xangai, permite que empresas do sector energético que ultrapassem as quotas de emissões que lhes foram atribuídas pelo Estado possam adquirir “licenças de poluição” de outras empresas, evitando assim multas.

O recém-inaugurado mercado inclui somente empresas termoeléctricas numa primeira fase, mas estima-se que estas sejam responsáveis por 40 por cento das emissões de dióxido de carbono do país. Em apenas 102 dias de operação, o mercado ultrapassou a fasquia dos 100 milhões de toneladas em termos de volume total de créditos de carbono negociados, representando um valor de RMB4,43 mil milhões (cerca de MOP5,58 mil milhões).

Os mercados de carbono não são uma novidade na China. Desde 2011, vários mercados piloto foram lançados a nível provincial, seguidos de um esquema a nível nacional em 2017.

O país também tem vindo a lançar incentivos com vista ao desenvolvimento de mecanismos financeiros de “crédito verde”, tendo aperfeiçoado as políticas de apoio para títulos obrigacionistas “verdes”. No fim de 2020, os “empréstimos verdes” tinham já atingindo cerca de RMB11,95 biliões. 


Resultados à vista

Os esforços ambientais da China já se traduziram em diversos ganhos, desde a redução do peso relativo das emissões de carbono na economia do país ao aumento das zonas verdes

-48%
Diminuição da intensidade carbónica da China entre 2005 e 2020. O país quer atingir uma redução, agora de 18 por cento, entre 2020 e 2025.
 
15,9%
Consumo energético total do país em 2020 assegurado por fontes não fósseis, uma subida de 8,5 pontos percentuais em relação a 2005.

474
Número total de reservas naturais existentes na China, representando um décimo da massa terrestre do país.

Fonte: Conselho de Estado da República Popular da China


Ambiente também é prioridade em Macau

O GOVERNO da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) diz estar articulado com o país no combate às alterações climáticas e na melhoria da qualidade ambiental. Em Dezembro, o Governo da RAEM e o Ministério da Ecologia e Meio Ambiente da China assinaram um acordo de cooperação na área da protecção ambiental, com vista a promover a construção de uma civilização ecológica e apoiar a RAEM na articulação com as políticas nacionais neste campo.

Um dos objectivos de Macau, definido no Segundo Plano Quinquenal de Desenvolvimento Socioeconómico da RAEM (2021-2025), é que o território atinja o pico de emissões de gases com efeito de estufa até 2030, apontando de seguida para a neutralidade carbónica.

No que respeita à protecção ambiental, o plano, além de limitar o crescimento anual do número de veículos a 3 por cento ao ano, define metas para o abate de “todos os veículos pesados de passageiros de Macau com Norma Euro 4”, correspondente a viaturas com elevados níveis de emissões poluentes. O Governo quer também disponibilizar nos terraços das novas habitações públicas a serem construídas “um sistema fotovoltaico” ou “um espaço de arborização não inferior a 30 por cento da área descoberta”.

De acordo com o Segundo Plano Quinquenal da RAEM, serão igualmente estabelecidos padrões para a qualidade ambiental das águas marítimas de Macau, assim como aperfeiçoadas as tarefas relativamente à prevenção e ao tratamento da poluição hídrica, bem como à protecção da qualidade da água nas áreas marítimas.

Em resposta à Revista Macau, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental afirma que o Executivo tem vindo a implementar diversas medidas relativamente às principais fontes de emissão de gases com efeito de estufa e de promoção da conservação energética. “O Governo irá continuar a avançar com os trabalhos relevantes em consonância com o Segundo Plano Quinquenal de Desenvolvimento Socioeconómico”, garante a DSPA.

Uma das prioridades tem sido a aposta em veículos verdes, com o aumento da disponibilidade de postos de reabastecimento. Até Outubro do ano passado, havia cerca de 2150 veículos ecológicos e 200 lugares para carregamento de automóveis eléctricos no território.

“A emissão de gases de escape por veículos motorizados é uma das fontes principais da poluição do ar em Macau”, refere a DSPA no seu website. Para melhorar a qualidade do ar nas vias públicas e assegurar a saúde da população, o Governo tem vindo a impulsionar medidas de melhoria nas vertentes de novos veículos importados e em circulação, acrescenta o organismo.


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