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Kuan Tai, Deus da guerra e da riqueza

Revista Macau
Edição nº 63
  • Templo de Kuan Tai, Taipa

  • Kuan Tai

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  • Dragão Embriagado

  • Templo de Kuan Tai, Macau

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Kuan Tai ou, em mandarim, Guan Di (關帝), o Deus da Guerra e da Riqueza, foi um grande herói do tempo dos Três Reinos (220–280), sendo a divindade mais conhecida e reverenciada em todas as comunidades chinesas, no país ou na diáspora

 

Texto Fernando Sales Lopes | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Dragão Embriagado
Dragão Embriagado

O aniversário de Kuan Tai tem lugar no 13.º dia da 5.ª Lua, o que neste ano de 2018 coincide no calendário Gregoriano com o dia 5 de Agosto. Para os crentes, Kuan Tai concentra em si todos os poderes, por isso a ele se pede protecção e prosperidade, mas também a resolução dos problemas dos mais íntimos ― pessoais ou domésticos ―, aos que afectam as nações ou o Universo. Venerado não apenas por taoistas mas também por budistas e confucionistas, Kuan Tai é ainda o protector da China.

Não há estabelecimento comercial que não ostente a figura do façanhudo General Kuan Tai olhando a porta de entrada, atestando aos passantes a qualidade do produto a mercar e a honestidade do vendedor. E não há lar onde o guerreiro representado em estátua, de vermelha face e de longas barbas ao vento, com ou sem a sua espada em riste, não proteja a habitação dos demónios e espíritos maléficos.

Kuan Tai
Kuan Tai

O grande guerreiro

Deificado pelo seu valor militar e contributo pela restauração do poder Han, como se conta no Romance dos Três Reinos ( 三國演義), onde os seus feitos de guerreiro se romantizam e eternizam, Kuan Tai é um exemplo a ser seguido no amor patriótico através do combate pela dignidade e pela defesa de princípios, a entrega total até às últimas consequências.

Ao tempo a que remonta a história do guerreiro ainda humano, a China vivia fragmentada e em grande instabilidade governativa com um jovem imperador sem força e desrespeitado, com desordens e lutas palacianas conduzidas pelos eunucos e, como se não fosse o suficiente, os elementos pareciam ter-se revoltado contra o reino, a sofrer toda a sorte de inclemências como terramotos, cheias e outras calamidades que levaram ao aumento dos impostos. O povo revoltou-se e os senhores da guerra começaram a organizar as forças de uns e de outros lados para assumirem o poder. Quando o imperador morre sem descendência, muitos querem conquistar o trono Han. É nesta realidade que Kuan Tai sobressai como um grande guerreiro e o maior dos estrategas, vencendo as hostes inimigas em batalhas consecutivas, afastando  poder dos eunucos e dos religiosos que também combatiam para conquistarem partes de uma terra dividida. A luta do General ia, contudo, além das conquistas militares, pois Kuan Tai lutava pela restauração do poder legítimo Han, o Estado, o afastamento dos corruptos e a moralidade.

Templo de Kuan Tai, Macau
Templo de Kuan Tai, Macau

Os templos de Kuan Tai

Em Macau existem diversos templos onde Kuan Tai está presente, mas apenas dois lhe são dedicados. Contrariamente a outros locais, a sua evocação aqui faz-se em pequenos templos sóbrios como a divindade enquanto humano quis ser.

O templo de Kuan Tai (關帝廟) em Macau, Património da Humanidade, encontra-se estritamente ligado à Associação Sam Kai Vui Kun (Associação das Três Ruas, 三街會館), a mais antiga associação chinesa constituída em Macau para promover o bem-estar dos moradores das três primeiras ruas de comércio:  a dos Ervanários, a das Estalagens e a dos Mercadores, na extrema entre a cidade cristã e o bazar, como nos tempos antigos se designavam os bairros de portugueses e estrangeiros, e o dos moradores chineses. O templo é propriedade da referida associação, que o custeou.

Em frente à porta do Templo de Kuan Tai eram expostas para conhecimento da população as chamadas “chapas sínicas”, expedidas pelos mandarins representantes do poder chinês, a dois passos do Leal Senado, então sede da governação portuguesa da cidade, assinalando os tempos de uma administração partilhada em Macau, a convivência e o respeito mútuos.

Templo de Kuan Tai, Macau
Templo de Kuan Tai, Macau

Por vezes, o Templo de Kuan Tai de Macau é nomeado por Sam Kai Vui Kun (三街會館) ― o nome da citada associação, por servir também como sua sede ― ou, ainda, de Templo de Mou Tai .

O Templo, lateral ao Mercado de São Domingos, é composto por três pavilhões: o do Deus da Riqueza (dedicado a Kuan Tai), o de Tai Soi (divindade do mau agouro), e o do Deus da Terra. Tem, ainda, representações do Nobre e Cavalo da Riqueza, e do Marechal Zao, o domador celestial do Tigre. No altar principal, ao centro, está Kuan Tai, ladeado pelos seus fiéis companheiros: Chau Chong à sua direita, e, à esquerda, o seu filho adoptivo Kuan Peng.

E é ali, no centro da cidade, frente ao templo em honra de Kuan Tai, que se inicia a festividade do Dragão Embriagado, evento único pois só em Macau pode ser vivido, já que este é o único local da China onde a tradição perdura.

Mais modesto e de dimensões reduzidas encontramos na aldeia de Cheok Ka Chin, na Vila da Taipa, o outro templo dedicado ao Senhor da Guerra, no qual partilha o espaço com Tin Hau (A-má). Um pequeno templo de adoração de duas divindades que foram muito importantes noutros tempos para a população local, que deles se socorria em alturas difíceis. Estávamos perante uma população essencialmente marítima, sujeita aos perigos constantes no mar, mas também aos da terra. A tradição aponta a construção do templo para a época dos Qing. Histórias antigas referem-se a duas famílias de apelidos Lam e Cheok que terão sido os primeiros moradores no local onde se encontra o templo e que se acredita terem sido elas a iniciar a construção e a custearem as despesas, sendo mais tarde ajudados pelas povoações vizinhas. 

As comemorações do aniversário do Deus da Guerra, em Macau, fixam-se em singelas cerimónias nos seus templos. Mas nem sempre foi assim, pois noutros tempos era ali vivida a efeméride com grandes festejos assinalados pelas decorações nos estabelecimentos, lanternas, frontões festivos e espectáculos de ópera chinesa, como assinala Gonzaga Gomes (Curiosidades de Macau Antiga): “Nenhuma outra festa era realizada por outros templos desta cidade que pudesse rivalizar com a que era levada a efeito pela Associação das Três Ruas”.

Templo de Kuan Tai, Taipa
Templo de Kuan Tai, Taipa

Combatente dos espíritos maléficos

Esta conhecida competência da divindade descrita em textos antigos, na tradição oral popular, e conservada por modos diversos – representada e cantada em óperas populares – fizeram do guerreiro um herói da literatura, do cinema, da banda desenhada e de outros meios de comunicação para todas as idades. Kuan Tai é certamente o mais mediático dos heróis da cultura chinesa.

Mas o seu poder é tal que desempenhar a sua personagem em qualquer palco é uma das mais difíceis tarefas e a de maior responsabilidade para qualquer artista, já que obriga-o a uma série de rituais para “limpeza” do corpo e do espírito, pois acredita-se que, se o não fizer, os poderes da divindade de controlo sobre os maus espíritos passam para aquele que o representa. Assim, entre outras regras rituais, o actor deverá queimar incenso 10 dias antes da actuação e deverá abster-se de comer carne e de actividade sexual. Depois de caracterizado, não deve brincar ou proferir frases jocosas. No final da actuação, o actor deverá queimar mais uma vez incenso à divindade e lavar a cara.

Kuan Tai
Kuan Tai

De humano a divindade

A sua vida de lutador intransigente levou-o para a morte. Ao ser capturado pelos inimigos, no ano 219, recusou render-se, tendo sido então decapitado. Porém, só ascenderia ao panteão das divindades na Dinastia Ming, em 1594, como Deus da Guerra – protector da China e de todos os chineses. Espalharam-se então por toda a China templos à divindade protectora.

Variados ofícios e ocupações tem Kuan Tai como patrono, com destaque para as artes marciais, as forças de segurança e os serviços militarizados. Alguns literatos baseados na tradição de que o famoso general tinha memorizado na íntegra o clássico confucionista O Comentário de Zuo elegeram-no também como Deus da Literatura.

Dragão Embriagado
Dragão Embriagado

 


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