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As festividades do Ano Novo Lunar Chinês

Revista Macau
Edição nº 66
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Panchões
Panchões

Conhecido também por Festival da Primavera, pois marca na China o início da estação, o Ano Novo Lunar, uma tradição que remonta a cerca de 2000 anos, é a festa mais importante dos chineses. Festa por excelência da família, no culto e vivência da natureza, da renovação, e da esperança num futuro melhor

 

Texto Fernando Sales Lopes | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

A primeira Lua Nova depois do Sol ter entrado no Signo de Aquário, que vai de 21 de Janeiro a 19 de Fevereiro, marca o primeiro dia do ano lunar. Assim, no ano de 2019, o primeiro dia do primeiro mês do Ano Novo Lunar será 5 de Fevereiro do calendário gregoriano.

Os anos são designados pelos nomes de cada um dos 12 animais que compõem o zodíaco chinês e que, segundo a lenda, terão respondido à chamada de Buda. A sequência dos animais no calendário é a mesma com que se apresentaram perante o mestre: Rato, Búfalo, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Porco. O ano que termina a 4 de Fevereiro de 2018 é o do Cão, e o que se inicia a 5 de Fevereiro de 2019 é o do Porco.

Panchões
Panchões

Tradição em Macau

Em Macau, terra de muitas e diferentes gentes e culturas, o Ano Novo Lunar, para além da grande festa chinesa, também é a festa de todos: os que aqui vivem, transcendendo a própria comunidade, numa apropriação do mais lúdico, em desfavor do culturalmente mais profundo, por ser, obviamente, desconhecido e estranho ao outro.

Macau sempre foi lugar de grandes comemorações do Ano Lunar atraindo gentes de fora, principalmente do Sul do País e de Hong Kong, cujas famílias para aqui se deslocam e permanecem durante os dias dos festejos. A tal realidade não seria alheia a existência da indústria local de panchões, que chegou a ser a mais importante de Macau ainda no século passado, o jogo de casino ou de rua, principalmente o célebre fantan o mais desejado das gentes do mar, e a existência de uma inúmera população marítima de Macau a que se juntava a das zonas ribeirinhas adjacentes, e ainda o facto de ser livre o rebentamento de panchões e de outro material pirotécnico proibido noutros locais.

As ruas, os largos, os edifícios públicos, privados e religiosos vestem-se de luz e vermelho anunciando a festa. Símbolos da quadra construídos em bambu, forrados a seda e iluminados no seu interior, com destaque para o animal do ano, acompanhado de todo o zodíaco, para além de sapecas, douradas, carpas também elas douradas e vermelhas, entre outros símbolos de riqueza e felicidade, espalham-se por Macau e ilhas.

Ano Novo Chinês
Ano Novo Chinês

Uma semana antes do fim do ano começam a surgir pelas ruas tendinhas vendendo hastes e ramos floridos de pessegueiro, camélias, bolbos de narcisos, crisântemos – de várias cores, nomeadamente amarelos, brancos e vermelhos – e, também, laranjeiras e tangerineiras em miniatura.

Nas lojas espalhadas pela cidade, ou nas tendinhas das flores e dos enfeites festivos no Largo do Senado, no Tap Seac ou no Largo do Carmo, na Taipa, vendem-se, entre outros artefactos, pequenas lanternas vermelhas decorativas, quadros com frases auspiciosas, figuras em cartão irradiando vermelho e dourado, talismãs, cartões de boas festas, pacotes de laissi [ver caixa], almanaques para o novo ano e papéis vermelhos com o carácter de felicidade a dourado. Estes últimos são colados de pernas para o ar e anunciam a chegada da felicidade. Já os tradicionais papéis de saudação da Primavera são colocados nas portas das casas recebendo o novo ano, chamando a sorte, a riqueza e a felicidade ao lar. Papéis hoje impressos, mas que num passado não muito distante ainda as suas mensagens eram pintadas e caligrafadas por mãos de artistas que na quadra as vendiam de casa em casa.

Ano Novo Chinês
Ano Novo Chinês

A Festa da renovação

Renovação e limpeza nas residências e estabelecimentos. Nada de velho para o que é novo. Aí vem o novo ano. Há que recebê-lo limpo, renovado, honrando homens e deuses. Também do corpo se trata e cortar o cabelo nas vésperas do novo ano é obrigatório, e os cabeleireiros sobem os preços, por vezes, até ao dobro. Festa é festa, e há negócio para todos. Entrar no novo ano limpo implica, também, que todas as dívidas fiquem resolvidas antes da sua chegada.

Ano Novo Chinês
Ano Novo Chinês

As gentes do mar

Ao Porto Interior chegam as embarcações com as gentes do mar. Também para eles é a festividade mais importante, e Á-Má, não o esqueçamos, é a sua padroeira. Em tempos idos, os dias do Ano Novo eram os únicos em que as gentes do mar paravam a faina e podiam ir a terra, para fazerem o culto e viverem a festa, inundando a cidade onde a sua presença era, habitualmente, indesejável, por as pessoas os considerarem gente de moral duvidosa.

Hoje essa comunidade já não é vista como tal, as oportunidades de emprego e o acesso ao ensino alterou modos de vida e a aceitação dos da terra. Nas sampanas, enfeitadas a rigor – com claras diferenças relativamente às da terra – a actividade familiar, as roupas novas, as refeições especiais, a partilha com a vizinhança e familiares é vivida intensamente e não pode ser perdida, pois a erosão do tempo aponta para o seu gradual desaparecimento.

Das centenas de embarcações que cobriam as águas do Porto Interior, unindo as suas duas margens há cerca de duas décadas, assim como o intenso e desusado movimento das gentes do mar inundando a cidade, tão bem descrito por Leonel Barros, hoje não restam escassas dezenas de embarcações.

No regresso à faina, a sampana aproada ao Templo de Á-Má, e o rebentar do panchão pelo chefe de família, agradecendo dádivas, garantem a protecção da divindade para mais um ano de uma vida de perigos e sobressaltos, cumprindo-se uma vez mais a tradição do ritual.

Orquídeas
Orquídeas

Os símbolos da prosperidade e da felicidade

As plantas, para além de simbolizarem a renovação através das suas flores ou dos seus frutos, como dádivas da natureza, transmitem também alegria e felicidade. A sua importância varia conforme o seu significado.

A tangerineira não pode faltar em nenhuma casa, devendo estar prenhe de tangerinas maduras, elas que são felicidade e dinheiro para quem as tem. A homofonia do seu nome em chinês confunde-se com o ouro, a fortuna, portanto.

Os narcisos, com aquele seu belíssimo perfume, têm de ser muito bem tratados de forma a florescerem e estarem no seu pleno mesmo na hora da passagem de ano. O mesmo acontece com o pessegueiro que, para além de atrair alegria, também deve estar florido na ocasião e, isso, acreditam as pessoas, trará muita prosperidade.

O anúncio do fruto na hora certa. Prosperidade também representa o crisântemo com as suas abundantes pétalas, para além das energias positivas, como flor do bem que é.

As guloseimas são muitas e variadas: rebuçados de nogado e gengibre envoltos em coloridos e variados papéis de celofane e frutas cristalizadas, como pedaços triangulares de coco ou às tiras; laranjas; sementes de lótus (boas para quem deseja descendência) e a sua raiz às rodelas; castanhas de água; tiras de gengibre; de abóbora; rodelas de cenoura, tangerinas; cunquates, além dos pastéis doces com variados recheios como o de amendoim e pudins. Os doces, tão importantes em todas as festas – em qualquer cultura – adoça a boca e os ânimos. Doce se quer a vida, se quer o futuro. E pevides pretas, brancas, avermelhadas! Também estas, como sementes que são, apontam o crescimento, a renovação, a abundância.

Fluxo migratório
Fluxo migratório

Refeições em família

Digamos que os preparativos da maior festa das famílias começam com um jantar familiar no oitavo dia da 12.ª Lua, com um prato especial de arroz. No entanto, para a maior parte da população, as reuniões familiares começam mais tarde, pelo que os momentos mais importantes das comemorações são as ligadas a Chu Kuan e o jantar da véspera do ano novo.

Chu Kuan, deus da Cozinha ou do Fogão, assim chamado por residir por detrás do fogão, é o protector das famílias, enviado do céu para a terra para tomar conta de cada uma delas. Segundo a tradição, no 24.º dia do 12.º mês inicia a sua viagem para o Céu para apresentar ao senhor dos céus, o Imperador de Jade, o relatório sobre a forma como se portou a família que protegeu e vigiou durante o ano. Assim, no 23.º dia da 12.ª Lua, as famílias andam ocupadíssimas a tratar a divindade. São-lhe oferecidos lautos banquetes e até há quem lhe dê umas bebidas fortes para ver se ele, satisfeito com as oferendas, esquece o que viu e ouviu de mal ou, em último caso, que a bebida lhe entaramele a língua e o supremo imperador não consiga perceber patavina do relatório.

Seguem-se sete dias de liberdade e de alívio que são aproveitados para se fazer o que não se pode no resto do ano, mas, esse tempo de liberdade tem um limite, e logo às primeiras horas do novo ano, aí está ele de volta! É recebido com o estridente rebentar de panchões, e a nova imagem é colocada no seu sítio para mais 12 meses de olhos e ouvidos em alerta por detrás do fogão.

É nessa altura que se colam papéis auspiciosos vermelhos, chamados da Primavera (chu lian) com os caracteres em dourado, e os protectores da casa e dos que nela residem nos umbrais das portas (duilian).

Mas importante, muito importante, é a reunião das famílias. Não podemos esquecer que o Ano Novo Chinês é, essencialmente, uma festa de família. Assim, no 29.º ou no 30.º dia da 12.ª Lua, conforme o ano (véspera do primeiro dia do ano), é o dia do grande jantar de família, com muitos pratos especiais e todos eles com significados importantes – felicidade, longevidade e prosperidade.

A grande festa da passagem do ano é à meia-noite. Felicitações entre familiares e amigos, fogo-de-artifício, mais uma refeição dedicada ao novo ano e a romagem aos templos. O vermelho, uma constante na cultura chinesa, assume durante o Ano Novo uma maior presença.

Orquídeas
Orquídeas

O vermelho é yang. O constante rebentar de panchões afasta os maus espíritos com o seu ensurdecedor ruído, ao mesmo tempo que os pedaços de papel, que espalha pelas ruas, atapetando-as a vermelho, transmitem felicidade. Vermelho em tudo. Nos enfeites, nas roupas, nos papéis dos panchões, nos laissi.

A romagem aos templos dura toda a noite, acendendo pivetes, queimando panchões fazendo rodar moinhos de vento ao sopro do vento do novo ano. E acender e passear pivetes gigantes de templo em templo. “Bater cabeça” em todos, pedindo as bênçãos para um Ano Novo próspero e pleno de felicidades, e jogar nos casinos.

Ter a estampa ou a figura do deus da riqueza é prática nunca esquecida e fazer-lhe culto do primeiro ao quinto dia do ano é assegurar a riqueza, ou pelo menos afastar problemas financeiros durante o novel ano.

As refeições do primeiro dia foram confeccionadas de véspera, já que o uso de materiais cortantes, nomeadamente facas e tesouras, deverão estar guardadas, pois usar um objecto cortante nesta data é cortar a sorte e a felicidade.

Os festejos não terminam aqui. Ainda há mais 15 dias de actividades para acompanhar, de ritos para cumprir. Se há um dia para o aniversário de todas as pessoas – o sétimo dia do novo ano – também há outros para os animais. No segundo dia é o aniversário de todos os cães; no quarto é o da cabra; no quinto o do búfalo e no sexto o do cavalo… O Festival das Lanternas, chega no 15.º dia, e os festejos terminam então.

Lai Sis
Lai Sis

 

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Os laissis

Pequeno envelope vermelho e dourado com uma nota de dinheiro no interior que se distribui no Ano Novo Lunar. Apenas crianças, adolescentes, solteiros e subalternos têm direito a um envelope. Dado com ambas as mãos e recebido com ambas as mãos, convém lembrar que não se abre um laissi à frente de quem no-lo dá. É uma regra que não se deve quebrar. Sorte para quem os recebe, sorte para quem os dá.

 

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A maior migração do planeta 

Com início duas semanas antes do ano novo e prolongando-se num total de 40 dias, centenas de milhares de chineses deslocam-se pelo país, utilizando todos os meios de transporte, rumo às suas aldeias, cidades e vilas, para se juntarem às famílias. Considerada a maior migração do mundo, esta movimentação a partir dos grandes centros industriais, a que se juntam os residentes no estrangeiro, deslocou no ano passado 385 milhões de pessoas.


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