O calendário cultural de Macau nunca foi tão preenchido como por estes dias. Do cinema à literatura, das artes plásticas às artes de palco, da música às performances de rua, são apresentadas mês após mês um número considerável de propostas culturais a residentes e turistas. Eis os principais destaques da agenda anual, iniciativas públicas e privadas a não perder
Texto Hélder Beja
Festival Fringe
Janeiro
É por excelência o festival de rua de Macau. Durante o Fringe, tanto as agitadas artérias de Macau como sítios do património classificado pela UNESCO recebem as mais diversas propostas artísticas de grupos e criadores individuais locais e de outras partes do globo. Música, dança, teatro, performance, artes circenses e muito mais cabem na programação deste evento que se propagou por inúmeras cidades do globo e que já vem acontecendo em Macau há 17 anos. O espírito de festa e o colorido que empresta à cidade fazem do Fringe um momento único no calendário cultural da RAEM.
Bienal de Design de Macau
Janeiro/ Março
Já vai na 11.ª edição e ao longo dos anos tem-se assumido como um momento importante para que os criadores locais possam mostrar os seus trabalhos, ao mesmo tempo que convivem com obras vindas de várias partes do mundo. A mais recente mostra teve lugar em Dezembro passado, na Galeria de Exposições Especiais do Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau. Os trabalhos mostrados são sempre alvo de uma rigorosa selecção e revelam o que de melhor se faz na Ásia mas também no Ocidente em termos de design. A actual exposição conta com mais de 200 obras e está patente até ao final de Março deste ano.
Photo Macau
Março
É mais um evento cultural prestes a nascer em Macau, quando a cidade acalenta assumir-se como um verdadeiro pólo artístico. A Photo Macau dedicará, como o nome indica, especial atenção à fotografia. A primeira edição está agendada para o período entre 25 e 28 de Março deste ano, e decorrerá no centro de exposições do Venetian Macau. O director do Centro de Fotografia de Genebra, Joerg Bader, e a principal curadora do Museu de Arte Contemporânea de Seul, Nathalie Boseul Shin, estão entre os nomes mais relevantes do conselho consultivo e de curadores do certame. Istambul é a cidade em destaque para a primeira edição, numa iniciativa com curadoria da coleccionadora e especialista na cena artística turca, Nina Öger.
Festival Literário de Macau – Rota das Letras
Março
É o único evento literário de grande escala organizado em Macau, trazendo à cidade autores da Grande China, dos Países de Língua Portuguesa e de muitas outras geografias. Começou em 2012 e vai já para a sua sétima edição. O cariz trilingue (chinês, português e inglês) e gratuito de grande parte do programa, bem como a atenção dada à música, às artes plásticas e ao cinema, além da evidente literatura, fizeram da Rota das Letras um festival transversal, que consegue atrair públicos diversos. Yu Hua, Valter Hugo Mãe, Wang Anyi e Dulce Maria Cardoso, Sérgio Godinho e Cat Power, o vencedor do Prémio Pulitzer Adam Johnson e os finalistas do Prémio Booker Madelaine Thien e Graeme Burnet são alguns entre as centenas de convidados que passaram por Macau nos últimos anos.
Festival Internacional de Cinema e Vídeo
Abril/Maio
O programa de apoio ao desenvolvimento de projectos cinematográficos do Centro Cultural de Macau (CCM), denominado Macau – O Poder da Imagem, foi ao longo da última década um importante espaço de liberdade e criatividade para os jovens cineastas locais. As verbas e o apoio dado pelo CCM às produções locais possibilitaram a existência de largas dezenas de filmes, do documentário à ficção, passando pela animação. Foi, por exemplo, ali que Tracy Choi, uma das promissoras realizadoras locais, deu os seus primeiros passos. Além das produções apoiadas e apresentadas no Festival Internacional de Cinema e Vídeo, há espaço nesta mostra cinematográfica para outros filmes de Macau, na secção Macau Indies; bem como para obras internacionais, com alguns dos filmes do Festival Internacional de Cinema de Hong Kong a serem seleccionados para passar em Macau.
Festival de Artes
Maio
É o mais importante acontecimento artístico e cultural de Macau a cada ano, pela sua escala, pela sua história (já vai na 28ª edição) e pela qualidade das propostas que apresenta. Organizado pelo Instituto Cultural, o Festival de Artes de Macau tem anualmente um programa rico e diverso, do teatro à performance, da música à dança. Artistas e grupos da China e de outros países asiáticos coabitam na agenda de espectáculos com criações vindas da Europa, dos Estados Unidos da América e também da América Latina.
Exposição World Press Photo
Setembro
Todos os anos Macau é a única cidade da China a receber a exposição com as fotografias vencedoras da competição World Press Photo (WPP). A mostra, organizada pela Casa de Portugal em parceria com a Fundação Oriente, acontece regularmente na Casa Garden e apresenta os melhores trabalhos fotográficos publicados na imprensa mundial. Poder aceder ao trabalho de alguns dos melhores repórteres de imagem do mundo – em categorias tão diversas como Assuntos de Actualidade, Ambiente, Natureza, Pessoas ou Desporto – tem sido um privilégio para residentes locais e visitantes. Está já confirmado que a exposição WPP visitará Macau pelo menos até 2020.
Festival Internacional de Música
Outubro
É provavelmente o festival que mais visitantes de Hong Kong atrai a Macau. Com um programa as mais das vezes invejável, consegue trazer à cidade as melhores orquestras do mundo, os mais finos executantes e as mais irresistíveis sinfonias. Também organizado pelo Instituto Cultural, o Festival Internacional de Música tem vindo ao longo dos anos a educar e a fidelizar um público que hoje esgota praticamente todos os seus espectáculos. Quem pudesse pensar que a música clássica – que compõem não a totalidade do programa mas uma grande parte – teria os dias contados nesta sociedade ultra-modernizada, pode olhar para Macau, para o sucesso deste festival, e perceber que tal está longe de acontecer.
Festival da Lusofonia e Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa
Outubro
É a festa popular por excelência e celebra a multiculturalidade de uma cidade onde a influência portuguesa e lusófono ainda se faz sentir numa cidade mormente chinesa. Todos os anos, a zona do Carmo, junto às Casas-Museu da Taipa, enche-se de gente que acode às famosas barraquinhas de comidas e bebidas vindas dos quatro cantos do mundo que se entende em língua portuguesa. A juntar ao arraial, a arte e o artesanato tomam o palco, com concertos a acontecerem um pouco por toda a cidade, e mostras de artesanato e exposições a fazerem parte de um programa que destaca as culturas africanas de expressão portuguesa, Timor, Brasil, Goa, Portugal e, claro, que não se esquece de apresentar a cultura chinesa.
DocLisboa (Extensão de Macau)
Outubro/ Novembro
O Instituto Português do Oriente (IPOR) decidiu chamar a si a responsabilidade de trazer a Macau o melhor do mais importante festival de cinema documental em Portugal, e um dos mais relevantes da Europa. Os filmes do DocLisboa apresentados no Auditório do Consulado-Geral de Portugal representam o que de mais substancial se produz no que toca ao documentário em Portugal.
Salão de Outono
Novembro
Organizado pela Art For All e pela Fundação Oriente, este Salão de Outono, iniciativa de inspiração europeia, tem servido para revelar ou tornar mais conhecidos alguns dos melhores jovens artistas de Macau, como Eric Fok e Lai Sio Kit. As paredes da Casa Garden convidam os artistas a mostraram os seus trabalhos, independentemente do meio de expressão que utilizam. Depois, selecciona-os, organiza-os, dá-lhes dignidade através de uma exposição bem montada, oferece-lhes a possibilidade de chegarem ao público e de serem adquiridos e, além de tudo isto, premeia ainda o melhor artista de cada ano. O vencedor é contemplado com uma residência em Portugal e a possibilidade de expor na galeria Arte Periférica, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
This Is My City
Dezembro
O festival This is My City é um dos mais antigos de Macau, projecto que já teve várias vidas mas que nos últimos anos encontrou a criatividade e energia necessárias para crescer. Evento preocupado em pensar a cidade e a região que se insere, o This is My City trabalha sobre o planeamento urbano e a arquitectura, as indústrias culturais e o tecido social da cidade, trazendo a Macau especialistas em cidades e indústrias criativas, dinamizadores culturais e, claro, artistas de renome. Agora, o projecto estende-se pela primeira vez a Shenzhen, com o claro intuito de transformar-se num festival de escala regional e de promover o diálogo entre Macau, a China e Portugal.
Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios – Macau
Dezembro
Teve um começo atribulado, na sua primeira edição, mas parece agora querer encontrar o rumo certo, sob a direcção artística de Mike Goodridge e enfoque em novos cineastas. Evento de grande escala, com um orçamento capaz de atrair figuras maiores da sétima arte – como o caso do cineasta Laurent Cantet, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e presidente do júri da mais recente edição do festival de Macau – esta iniciativa tem tudo para poder entrar no mapa dos festivais de cinema mais relevantes da Ásia. A cada Dezembro, Macau vai atrair estrelas da sétima arte, mas também produtores e investidores que podem ser decisivos para fazer florescer a indústria do cinema, que muitos acreditam ter grande potencial.
Desfile Internacional de Macau
Dezembro
A anteriormente denominada Desfile por Macau, Cidade Latina continua a ser um dos grandes chamarizes turísticos da recta final de cada ano. Agora com o nome de Desfile Internacional de Macau, trata-se de um cortejo de grandes proporções, que convida para as ruas da cidade artistas de inúmeros países, prontos a apresentar os seus dotes aos milhares de pessoas que acorrem ao chamamento desta parada colorida, frenética e as mais das vezes surpreendente. Não é um desfile de carnaval, mas é sem dúvida o que de mais semelhante a isso Macau tem.
Festival da Luz
Dezembro
Dezembro é tempo de Festival de Luz em Macau. As Ruínas de São Paulo e o Lago Nam Van têm sido os locais privilegiados para este evento que atrai milhares de curiosos através de espectáculos de ‘video mapping’ e labirintos de luz. Mas há também exposições em diferentes espaços, como a Casa Garden, e intervenções em diferentes locais públicos, como paragens de autocarro e fachadas de edifícios. O bairro de São Lázaro, o Jardim Luís de Camões e as Casas-Museu da Taipa são apenas alguns dos locais aos que se estendem por norma as muitas luzes desta iniciativa da responsabilidade do Turismo de Macau. Na última edição, o tema do festival foi “Amor Macau”, inspirado nos momentos difíceis que a cidade atravessou depois da passagem do tufão Hato.