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Ponte Maputo-KaTembe: uma ligação para o futuro

Revista Macau
Edição nº 89
  • A ponte Maputo-KaTembe foi inaugurada em Novembro de 2018

  • Mapa

  • A KaTembe, na Baía de Maputo, tem cerca de 25 mil habitantes

  • A ponte, financiada pela China, foi o maior empreendimento construído em Moçambique nos últimos 40 anos

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Há quem diga que a ponte Maputo-KaTembe conferiu mais beleza e estética à capital moçambicana, tendo-se imposto como um dos principais postais fotográficos da cidade. Mas o projecto, financiado e construído pela China, também trouxe aos moçambicanos, sobretudo aos residentes da KaTembe, renovada esperança e expectativas sobre o futuro

Texto Jaime Álvaro
Fotografia Levy Pereira

Passados quatro anos desde a inauguração da ponte Maputo-KaTembe, em Novembro de 2018, alguns observadores baseados em Maputo, capital de Moçambique, falam de “duas KaTembes”: a primeira é uma que, antes da conclusão da ponte, estava “meio esquecida”; a segunda, uma KaTembe vibrante e em crescimento, impulsionado pela ponte que liga as duas baías de Maputo.

Um dos pressupostos que justificou o investimento na construção da infra-estrutura, a maior ponte suspensa de África, era o de que o empreendimento promoveria a diversificação e alavancaria “rapidamente” a economia moçambicana, em particular do distrito da KaTembe.

A ponte Maputo-KaTembe, o maior empreendimento construído em Moçambique após a independência, foi financiada – até 85 por cento – e construída pela República Popular da China, num valor total de US$785 milhões, concedidos a Moçambique através do Banco de Exportação e Importação (China EximBank). 

A ponte Maputo-KaTembe foi inaugurada em Novembro de 2018
A ponte Maputo-KaTembe foi inaugurada em Novembro de 2018

As estradas de ligação à ponte também contaram com o financiamento da China, num valor de US$315 milhões. A construção da ponte e infra-estrutura associada ficou a cargo da empresa China Road and Bridge Corporation (CRBC). 

Quatro anos após a inauguração, a economista moçambicana Estrela Charles diz que é necessário pensar na melhor forma para capitalizar o empreendimento de forma abrangente e efectiva. “Se ainda estivéssemos numa altura de ter que definir a pertinência e as prioridades, eu diria que Moçambique é um país que tem muitas dificuldades e, analisando também em termos de nível da população da KaTembe e o resto do país, tal significaria que poderíamos ter aplicado esse investimento em outras opções, como desenvolver o sector da saúde e da educação”, defende em entrevista à Revista Macau.

“O que temos de fazer neste momento é fazer [o investimento] valer a pena. Isso é o que realmente importa”, afirma, destacando a facilidade e a conveniência que a infra-estrutura trouxe à comunidade. “Antigamente, estávamos dependentes – tanto os empresários, como os residentes e a população em geral – da travessia via batelão, cujas horas de operação eram limitadas. Com a ponte, é possível circular a qualquer hora.”  

Mapa
Mapa

Mais que uma travessia

Para os economistas, o efeito multiplicador que a ponte terá na economia da margem sul da província de Maputo está apenas no início, e o potencial transformador ainda se irá fazer sentir ao longo dos próximos anos. O investimento relacionado com o projecto da ponte Maputo-KaTembe incluiu também a construção e reabilitação de 200 quilómetros de estradas – incluindo outras cinco pontes de menor dimensão – com ligação à fronteira com a África do Sul.

Para o presidente da Associação dos Agentes de Viagens e Operadores Turísticos de Moçambique (AVITUM), Noor Momade, este tipo de infra-estruturas é a “chave” que faltava para promover o desenvolvimento económico de Moçambique, em particular da região sul do país. “Quando olhamos para os países mais desenvolvidos do mundo, não há dúvida do papel central que este tipo de investimento por parte dos governos tem no estímulo das próprias economias, tanto no imediato como a médio-longo prazos, criando as condições para a prosperidade e o crescimento sustentado para o futuro”, diz à Revista Macau o dirigente. 

Segundo Noor Momade, nenhum país se pode desenvolver sem infra-estruturas desta magnitude. “A nossa economia precisa de infra-estruturas fiáveis para ligar as cadeias de fornecimento e permitir o transporte de bens e serviços com eficiência, aproximando efectivamente as comunidades.”

A KaTembe, na Baía de Maputo, tem cerca de 25 mil habitantes
A KaTembe, na Baía de Maputo, tem cerca de 25 mil habitantes

O economista e analista moçambicano Egas Daniel dá alguns exemplos de mudanças que só foram possíveis após a inauguração da ponte, incluindo mais infra-estruturas e maior investimento a nível local. 

“A ponte viabilizou vários investimentos na KaTembe e ao longo da estrada que vai à Ponta do Ouro. A empresa chinesa de cimentos Dugongo é um exemplo disso. O mesmo se pode dizer com a Estrada Circular de Maputo, onde para além de facilitar o fluxo de pessoas e bens, viabilizou investimentos ao longo da via e, principalmente, no distrito de Marracuene e nas estâncias turísticas locais”, explica o analista em declarações à Revista Macau.

Sinais do tempo

Os observadores são unânimes ao afirmar que o turismo foi o sector que mais beneficiou da entrada em funcionamento da ponte Maputo-KaTembe, tendo em consideração, por um lado, as potencialidades turísticas na margem sul da província de Maputo e, por outro, a solução para os problemas de mobilidade e deslocação dos turistas.  

“Tudo o que é operação turística na Ponta do Ouro e para a Ponta do Ouro saiu claramente beneficiada. Passou a estar a menos de duas horas de distância de Maputo, numa viagem tranquila, em qualquer altura do ano, em vez de seis horas como antigamente, numa viagem complicada e exigente. O mesmo pode ser dito para diversas outras áreas do turismo, nomeadamente a Reserva Especial de Maputo”, sustentou o presidente da AVITUM.

Noor Momade defende, porém, que o desenvolvimento inclusivo carece de um planeamento e estratégia específicos, devidamente estruturados, pelo que a conclusão da ponte Maputo-KaTembe ou a renovação da Estrada Circular não poderiam por si só mudar significativamente a realidade. 

“Tanto a ponte como as estradas facilitam a visita às estâncias turísticas dependentes destas infra-estruturas de transporte. Essa facilidade gera maiores receitas e aumenta a procura, o que se traduz num aumento dos investimentos na área do turismo, gera emprego e aumenta a actividade económica turística”, realça Egas Daniel. 

A ‘equação’ por resolver 

Há consenso em relação aos benefícios que a ponte trouxe: impulsionou o desenvolvimento turístico na margem sul da província de Maputo; reduziu significativamente o tempo de viagem de e para a capital; permitiu a criação de novos postos de trabalho; facilitou o acesso à educação e saúde; e impulsionou o comércio de produtos de primeira necessidade.

“Não podemos negar que a ponte foi benéfica para todos de uma forma geral. Mas numa análise mais aprofundada, os residentes da KaTembe é que estão a ter um benefício muito menor, pela questão da portagem, que é a mais cara ao nível de Maputo e do país”, aponta a economista Estrela Charles, que defende um reajuste das taxas para alargar o impacto económico na província e junto dos residentes da KaTembe. A portagem para veículos ligeiros custa 160 meticais (20 patacas), um valor significativo para muitos moçambicanos.

Reconhecendo o impacto socioeconómico das portagens na vida dos utentes, a Rede Viária de Moçambique, SA (REVIMO), concessionária responsável pela gestão da Estrada Circular de Maputo e da Ponte Maputo-KaTembe, tem adoptado medidas de mitigação que incidem sobre as viaturas ligeiras, transportadores colectivos e semicolectivos de passageiros e tractores agrícolas.

“Baseado no mecanismo do utilizador frequente, os residentes da KaTembe beneficiam de descontos entre 7 e 60 por cento, sempre a partir da décima primeira viagem. É condição primeira é que os utilizadores adiram ao cartão pré-pago da portagem. Os transportadores colectivos e semicolectivos de passageiros e tractores agrícolas beneficiam de um desconto de 75 por cento”, explica o director comercial da REVIMO, Sérgio Nhacule.

Segundo Sérgio Nhacule, passam diariamente pela ponte Maputo-KaTembe 5194 viaturas de todas as classes. “Os números superam as projecções iniciais e cobrem os custos de manutenção. Esta realização corresponde ao esperado”, afirma.


A ponte, financiada pela China, foi o maior empreendimento construído em Moçambique nos últimos 40 anos
A ponte, financiada pela China, foi o maior empreendimento construído em Moçambique nos últimos 40 anos

Uma ponte, vários desafios

A ponte trouxe benefícios no que diz respeito ao desenvolvimento social, mas também novos desafios, segundo alguns residentes locais.

De acordo com o IV Censo de Recenseamento Geral da População e Habitação de 2017, o Distrito Municipal KaTembe tem cerca de 25 mil habitantes. A projecção para os próximos 20 a 30 anos é que a população local cresça até cerca de 400 mil habitantes. As actividades económicas predominantes no distrito são a agricultura, silvicultura e pesca, que compõem cerca de 80 por cento da economia desta zona. 

“A ponte trouxe algum desenvolvimento ao nosso distrito. Há novos negócios e novas empresas que surgiram graças à ponte, o que permitiu a empregabilidade de muitos jovens do distrito”, diz Alfredo Vilânculos, jovem de 26 anos residente num dos bairros locais.

Mas outros negócios deparam-se com dificuldades. “A ponte trouxe algumas melhorias no acesso a serviços básicos e aumentou a circulação de pessoas. Mas em termos de transporte local ainda enfrentamos muitos problemas”, refere o proprietário de uma pequena embarcação, que viu o seu rendimento reduzir com a inauguração da ponte. 

Além disso, com a entrada em funcionamento da ponte, o serviço de batelão, que no passado fazia o transporte de pessoas e mercadorias, foi encerrado. José Manuel, também residente no bairro dos pescadores na KaTembe, diz que é necessário alargar a oferta em termos de transporte para melhor servir a comunidade.


A ponte Maputo-KaTembe em números

700 metros
Comprimento do tabuleiro suspenso

2
Rampas com pouco mais de um quilómetro cada

60 metros
Altura máxima do tabuleiro principal da ponte

4
Faixas para circulação de viaturas, duas em cada sentido


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