Várias organizações locais têm procurado atrair mais jovens para o golfe (Foto: Direitos Reservados)
Keith Un diz que os jogadores de Macau estão a aparecer cada vez mais no topo da classificação em torneios de juniores (Foto: Direitos Reservados)
Harry Lei consta actualmente nos rankings do golfe amador na categoria de juniores (Foto: Direitos Reservados)
João Nolasco Antunes diz que o golfe é cativante, mas exige tempo e dedicação (Foto: Direitos Reservados)
Carlos Ortiz venceu a edição deste ano do Torneio de Golfe “International Series” de Macau (Foto: Asian Tour)
The Youtube video is unavailable
Dar a conhecer o golfe aos alunos das escolas de Macau e apostar na criação de academias locais são projectos em curso para que a modalidade dê o tão desejado salto qualitativo. A realização de torneios internacionais na cidade tem também contribuído para o desenvolvimento deste desporto
Texto Vítor Rebelo
O golfe, um desporto de precisão e estratégia, é uma modalidade que tem crescido a nível internacional, com um aumento do número de praticantes, tanto a nível amador como profissional. A tendência não tem passado ao lado da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), com a introdução de programas para captação de jovens a trazer sangue novo para a modalidade.
Os programas, lançados pela Associação dos Profissionais de Golfe de Macau (MPGA, na sigla em inglês), com o apoio da Associação Geral de Golfe de Macau, têm procurado promover a modalidade junto das escolas locais, numa tentativa de atrair mais jovens para este desporto.
O “PGA Tour Dreams, Macau”, projecto implementado já em alguns estabelecimentos de ensino locais, “tem despertado um grande interesse e entusiasmo das crianças e das respectivas escolas”, diz à Revista Macau o presidente da assembleia-geral da MPGA.
Nesta primeira fase, o principal objectivo “é dar a conhecer o golfe aos mais novos”, refere Ernie Lee, acrescentando que, “se eles aprenderem as bases antes dos 11 anos, terão uma aptidão para o futuro”. O golfe, adianta, “ensina aos mais jovens muitas competências para a vida, como paciência, disciplina, honestidade, auto-reflexão, entre outros aspectos”.
Apesar da escassez de espaços e de instalações para a prática de golfe – que em Macau se resumem ao Macau Golf and Country Club, em Coloane, e ao Macau International Golf, no Cotai –, o dirigente diz que, durante anos, a Associação Geral de Golfe de Macau programou campos de verão “para dar a conhecer o golfe às crianças” e, posteriormente, foi criada a Associação de Golfe Juvenil de Macau, “que está a ter muito sucesso”.
Além disso, o aparecimento da Macau Champion Golf Academy (MCGA) veio oferecer a possibilidade de realização de treinos e eventos destinados aos jovens. Keith Un, responsável pela nova academia e um dos treinadores em Macau com mais anos de experiência no ensino do golfe aos mais pequenos, considera que o desenvolvimento do golfe juvenil em Macau não estava anteriormente alicerçado numa estrutura sólida. “Os jovens jogadores não dispunham de canais estruturados para formação organizada, competições ou acesso à informação”, afirma.
Aposta consistente na formação
Em 2018, as várias organizações “uniram forças para impulsionar activamente o golfe juvenil local, promovendo programas de formação, constituindo equipas para participar em vários torneios e criando planos de carreira para jogadores de elite”, refere Keith Un. Os esforços, realça, já começaram a demonstrar resultados: depois de Kelvin Si Ngai, que era o único jogador júnior de Macau com um ranking atribuído na lista do golfe amador, foi promovido “com sucesso” outro atleta local, Harry Lei Kun Wang, que passou também a constar no ranking da categoria.
Face à aposta que tem sido feita em anos recentes, Keith Un frisa que, “actualmente, os jogadores de Macau estão a aparecer cada vez mais no topo das tabelas de classificação em torneios de juniores”, com participação em provas em Macau, Singapura, Hong Kong, Tailândia, Malásia, Índia e Nova Zelândia, num total de cerca de 20 eventos por ano.
O responsável recorda também o lançamento, no ano passado, de um programa de elite para jovens golfistas, com o apoio do Macau International Golf. O projecto centra-se na “formação intensiva e no planeamento de carreiras para os praticantes locais”, com o objectivo de “cultivar sistematicamente os futuros talentos”.
Keith Un diz que os jogadores de Macau estão a aparecer cada vez mais no topo da classificação em torneios de juniores (Foto: Direitos Reservados)
Para além do programa escolar que teve início este ano, destaque para a iniciativa “First Touch”, desenvolvida, desde 2018, em colaboração com a Associação de Golfe Juvenil de Macau, segundo a qual vários treinadores certificados organizam aulas abertas ao público a cada três meses.
Nos últimos anos, a criação da MPGA “expandiu ainda mais as oportunidades de acesso dos jovens ao golfe, proporcionando-lhes mais possibilidades de se envolverem no desporto”, diz Keith Un, adiantando que 2024 foi o ano de maior crescimento da modalidade em Macau.
Actualmente, Macau dispõe de um grupo de golfistas da categoria júnior que participam regularmente em competições e que têm alcançado resultados positivos, segundo o dirigente. Jim Huang Iat I, de 17 anos, obteve o melhor registo de 65 pancadas – seis abaixo do par – na categoria de juniores do Torneio de Golfe Guangdong-Hong Kong-Macau, e Oscar Hung Chi Che, de 15 anos, jogou abaixo do par numa prova de elite local e tem conquistado frequentemente prémios em várias competições da categoria.
De entre as ideias para apoiar o desenvolvimento do golfe júnior local, o fundador da academia MCGA sugere que a criação de uma equipa de representantes do escalão poderia “permitir que os jovens jogadores tenham objectivos claros em diferentes fases”. Outras iniciativas referidas por Keith Un incluem a certificação de treinadores locais, visando “garantir uma formação de qualidade”; a procura de financiamento, “para reduzir os encargos financeiros dos pais”; e a concretização de um “planeamento de carreira mais claro e percursos de desenvolvimento para os atletas” de escalões mais jovens.
“Antes de progredirmos, Macau tinha muitos treinadores altamente qualificados e experientes, incluindo até Butch Harmon – o lendário treinador de Tiger Woods –, que já ensinou em Macau”, recorda o responsável. “Apesar de termos menos de uma década de experiência de ensino, a nossa academia, juntamente com uma organização sem fins lucrativos, conseguiu criar uma nova geração de jogadores de elite, numa altura em que a equipa de golfe de Macau estava à beira de um fosso geracional, estando, nesta altura, ainda a aprender e melhorar, o que requer muita dedicação”, remata.
No que respeita às instalações existentes em Macau, Keith Un refere alguns obstáculos à popularização e ao desenvolvimento do desporto, um desafio que não é exclusivo à cidade.
Apelidando o golfe de “um dos desportos mais desafiantes do mundo”, o monitor explica que as crianças precisam de resiliência para persistir no processo de aprendizagem só para chegarem à fase de principiantes. “Aqueles que ultrapassam a fase inicial e começam a jogar no campo enfrentam uma dura realidade, que é aplicar as técnicas de treino ao jogo real, o que é um desafio completamente diferente”, salienta Keith Un.
Melhorias e dedicação
Harry Lei, 16 anos, um dos jovens orientados por Keith Un, participou, em Março, no Torneio de Golfe “International Series” de Macau, no âmbito do Asian Tour. O atleta vai também representar Macau no “Asia-Pacific Amateur Championship” e na próxima edição dos Jogos Nacionais.
O golfista reconhece que o nível do golfe nas camadas juvenis “melhorou significativamente” com os projectos que começaram a ser desenvolvidos na cidade, ajudando a consolidar algo que, para o jovem atleta, se tornou numa paixão. “Quando era criança, o meu interesse inicial por este desporto veio de gostar de conduzir carrinhos de golfe e, mais tarde, achei o golfe em si bastante interessante.” Esta modalidade, afirma, “não requer apenas habilidade, mas também estratégia mental e paciência”, o que lhe permite “aprender muito para além do golfe”.
Harry Lei consta actualmente nos rankings do golfe amador na categoria de juniores (Foto: Direitos Reservados)
Hope Ning, que se encontra presentemente a estudar nos Estados Unidos da América, refere que o golfe se tem tornado mais popular em Macau, “também por causa dos vários torneios internacionais que a cidade tem acolhido e pela aposta na divulgação junto das escolas, que incluem o golfe nas actividades curriculares”.
A atleta, que começou a praticar em Macau quando tinha nove anos de idade, considera que a RAEM já dispõe de bons treinadores, “mas precisa que haja um maior investimento em recintos de aprendizagem abertos à população”.
Para além de precisão e estratégia, o golfe – mesmo a nível amador – exige dedicação, diz João Nolasco Antunes, atleta amador sénior residente na região há vários anos. “O golfe vicia e exige tempo e dedicação”, mas proporciona um “enorme prazer”, refere, acrescentando que a parte social é “fantástica”.
O praticante frisa que o golfe em Macau se encontra hoje “numa fase que nunca passou desde que o primeiro campo abriu em 1993”, pelo facto de receber torneios internacionais, “o que traz prestígio e dá oportunidade para ver jogadores de grande qualidade ao vivo”.
João Nolasco Antunes observa que “as associações estão mais activas e empenhadas nas camadas jovens e na divulgação da modalidade, organizando regularmente eventos para os seus membros, tanto em Macau como [noutros locais da] Grande Baía”.
Além de a MPGA ter “delineado um programa de desenvolvimento e promoção nas camadas jovens e em escolas de Macau”, outro factor que tem apoiado o desenvolvimento da modalidade tem sido a abertura de “estúdios com simuladores de última geração, onde se pode praticar o fundamental e confraternizar com outros entusiastas do golfe”.
Na opinião de João Nolasco Antunes, as associações locais deveriam empenhar-se mais na organização de actividades com os membros mais novos, “por forma a trazê-los para o jogo e criar uma comunidade de praticantes”. Estas organizações, sugere, podem tirar partido dos “dois campos fantásticos, ambos em muito boas condições de manutenção e de características muito diferentes, um deles possuindo um ‘driving range’ bem equipado, onde se proporcionam as melhores condições para o treino”.
João Nolasco Antunes diz que o golfe é cativante, mas exige tempo e dedicação (Foto: Direitos Reservados)
Sobre a percepção de elitismo na modalidade, reconhece que a imagem existe e, até certo ponto, representa um obstáculo à massificação do desporto. “Não é um desporto facilmente promovido junto da população, como acontece com o futebol, badminton, voleibol ou ciclismo”, diz. No entanto, acrescenta, “hoje em dia, praticar golfe não é mais caro do que outros desportos que precisam de equipamento especializado ou de recintos dedicados exclusivamente à actividade”.
Numa perspectiva regional, “na Grande Baía, em cidades como Zhuhai, Shenzhen, entre outras”, existem “óptimos campos, a preços acessíveis, não esquecendo que os recintos em Macau têm custos mais baratos durante os dias de semana e promoções regulares”, conclui.
Carlos Ortiz venceu a edição deste ano do Torneio de Golfe “International Series” de Macau (Foto: Asian Tour)
Eventos internacionais atraem jovens
Macau tem sido palco regular de torneios de prestígio internacional, com a participação de jogadores de alto nível, alguns dos quais em posições de topo no ranking mundial.
A juntar ao Macau Open, que se estreou em 1998 e teve duas interrupções, a RAEM acolhe desde o ano passado – também no relvado do Macau Golf and Country Club – o Torneio de Golfe “International Series” de Macau, que faz igualmente parte do Asian Tour, um dos principais torneios asiáticos de golfe.
A RAEM é, actualmente, uma das dez etapas do “International Series” e a edição deste ano, que decorreu em Março, permitiu a qualificação de três jogadores para o célebre torneio “Royal Portrush”, na Irlanda do Norte, um dos “major” do calendário internacional de golfe.
Macau esteve representada no torneio por dois jovens que se tornaram profissionais em 2024, Ronnie Hun e Kelvin Si.
Para Keith Un, fundador da Macau Champion Golf Academy, a organização de torneios internacionais em Macau, com carácter regular, “é um dos aspectos mais benéficos para os esforços que se fazem para atrair jovens para o golfe”.
Embora os jogadores juniores locais “não sejam convidados a participar ou interagir directamente, a oportunidade de observar esses eventos internacionais de perto tem sido incrivelmente motivadora para eles”, explica o responsável. Estas iniciativas “também têm ajudado muito mais pessoas a entender melhor este desporto”, acrescenta.
Ernie Lee, dirigente da Associação dos Profissionais de Golfe de Macau, também não tem dúvidas de que as provas de prestígio internacional que a RAEM recebe “têm contribuído para que haja mais interesse [por parte dos atletas locais] de jogar nos torneios que se realizam a nível interno”.
Com a imagem que a modalidade tem passado nos últimos anos em Macau, graças aos eventos internacionais, Ernie Lee considera que, “actualmente, o golfe é uma tendência em crescimento entre os jovens”.