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Nova mentalidade, máximo empenho
Revista Macau
Edição nº 97
  • A selecção de futebol de Macau regressou aos jogos internacionais no ano passado (Foto: José Giga)

  • Lázaro Oliveira estreou-se em 2023 em jogos oficiais como seleccionador de Macau (Foto: José Giga)

  • Nicholas Torrão, capitão da selecção, veste as cores de Macau desde 2011 (Foto: José Giga)

  • Nuno Pereira diz que a equipa tem evoluído de forma positiva (Foto: José Giga)

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A selecção de futebol de Macau esteve parada durante cerca de três anos e foi uma das últimas a regressar aos jogos internacionais após a pandemia. Mas depois da reabertura das fronteiras e no espaço de um ano, a equipa técnica liderada por Lázaro Oliveira realizou seis desafios, com um balanço que o treinador considera “bastante positivo”

Texto Vítor Rebelo

Há várias décadas que Macau não realizava tantos jogos internacionais em tão curto espaço de tempo. Durante o decorrer de 2023, a selecção de futebol disputou seis partidas, algumas de preparação, aproveitando os períodos determinados pela FIFA para jogos das selecções, e duas de compromisso oficial, a contar para provas como o Campeonato do Mundo de Futebol, neste caso diante do Myanmar.

A pandemia da COVID-19 fez retroceder grande parte do trabalho que a Associação de Futebol de Macau havia delineado a partir do momento em que contratou um treinador além-fronteiras, o luso-angolano Lázaro Oliveira, que veio para o território acompanhado pelo adjunto Pedro Simões.

Depois de começarem a trabalhar à distância, dado que as restrições ligadas à pandemia não permitiram que a dupla de treinadores viajasse para Macau, o início de 2023 foi o momento tão esperado para voltar a pisar os relvados e “calçar as chuteiras”. E o recomeço não poderia ter sido melhor: depois da estagnação entre 2020 e 2022, a selecção fez em 2023 o maior número de jogos que alguma vez tinha feito num só ano, numa tentativa de recuperar algum do tempo perdido.

Lázaro Oliveira estreou-se em 2023 em jogos oficiais como seleccionador de Macau (Foto: José Giga)
Lázaro Oliveira estreou-se em 2023 em jogos oficiais como seleccionador de Macau (Foto: José Giga)

Ao fim de um ano de trabalho de campo e com seis desafios efectuados em 2023, Lázaro Oliveira diz à Revista Macau que o “balanço é positivo”, já que “foi implementada uma nova metodologia de treino e uma ideia de jogo mais atractiva, assente num forte espírito colectivo e na prática de um futebol apoiado e de posse, que privilegia as características dos jogadores e na qual eles se sentem bastante confortáveis”.

Lázaro Oliveira recorda os dois desafios oficiais, na qualificação para o Campeonato do Mundo, realizados contra o Myanmar: “A grande diferença esteve, sobretudo, na condição física dos jogadores”. A equipa do Myanmar, “para além da sua qualidade técnico-táctica, estava num nível físico bem acima de Macau, porque, aquando da realização dos jogos, os seus jogadores encontravam-se a competir na liga doméstica, em contraste com os nossos que não competiam há longos meses devido ao fim da liga”.

Para este ano, ainda não está definido o calendário de jogos particulares para a selecção. “Iremos analisar as datas da FIFA e a disponibilidade dos jogadores”, explica o treinador. Em termos de desafios oficiais, a equipa de Macau terá em Setembro a pré-eliminatória de apuramento para a Taça da Ásia.

Nos próximos meses, salienta Lázaro Oliveira, o objetivo é incidir “o foco na observação e treino de jovens da selecção de sub-20 que tenham características físicas, técnicas e tácticas e sobretudo vontade e disponibilidade, de modo a serem potenciados para integrar a selecção principal”.

Visão profissional

E serão os jovens o caminho para o futuro da selecção? “Sim”, responde o treinador, lembrando, no entanto, que “o futebol em Macau tem características muito próprias, e com realidades bastante distintas”.

Mas para que o futebol de Macau se aproxime da realidade de outras regiões, a modalidade deverá ser encarada “de uma forma mais séria e profissional”, salienta o seleccionador. “O futuro da selecção de Macau passa claramente pela aposta em jovens jogadores, mas de forma sustentada, para que possam continuar a evoluir e não criar demasiada exigência e expectativas que possam ser contrárias ao seu desenvolvimento e afirmação”, sublinha.

Lázaro Oliveira conta que “já há vários jovens que regularmente treinam com a equipa principal e que vão adquirindo as ideias, a mentalidade, as rotinas e dinâmicas de jogo e o ritmo e intensidade necessários para que possam integrar o grupo de seleccionados”. Contudo, ressalva, “o problema dos jovens jogadores prende-se com a gestão da vida escolar, particular e desportiva”. “Muitos precisam de mudar a mentalidade, perceber a importância da necessidade dos treinos regulares, do compromisso, do espírito colectivo e da paixão pelo futebol”, explica.

O seleccionador reconhece que “há ainda um longo caminho a percorrer para elevar o ranking” internacional de Macau, de forma a “aproximar-se dos países que estão ligeiramente à sua frente”.

“Macau não dispõe dos mesmos recursos humanos e operacionais” comparativamente a outras regiões, realça o treinador, nomeadamente no que diz respeito ao número de jogadores seleccionáveis e de instalações. “O futebol em Macau necessita de uma reestruturação ao nível competitivo para que no futuro possa rivalizar com outras selecções asiáticas do seu patamar”, adianta.

Maior competitividade

No que toca ao papel das academias de futebol no território, “que fazem um trabalho de qualidade com os jovens”, Lázaro Oliveira diz que estas iniciativas são “boas para aperfeiçoar as qualidades técnicas e entendimento do jogo que lhes permitirão no futuro ser mais-valias para as várias selecções nacionais”.

Outro aspecto de grande relevância para o desenvolvimento das selecções é o nível competitivo de uma liga, “devido à realidade quase amadora das competições” locais, avança o treinador.

Nos aspectos mais positivos, o responsável destaca as “condições a nível de material de treino e a disponibilidade e aceitação dos atletas perante uma nova metodologia de treino e de jogo”. No sentido oposto, realça as “dificuldades” sentidas na selecção, nomeadamente, em termos de “agilização das sessões de treino por causa dos horários de trabalho e treinos dos clubes onde actuam os jogadores, bem como o número reduzido de campos para a prática da modalidade”.

Embora o jogador de Macau “seja habilidoso com bola, revela algumas carências técnico-tácticas, com um ritmo de jogo lento e com pouca intensidade”, refere o seleccionador. Por isso, defende, a liga de futebol do território “necessita de uma reestruturação para que possa ser mais competitiva”.

“O campeonato deveria ter mais jogos, numa primeira fase, com duas voltas, e, numa segunda fase, os clubes, consoante as posições na tabela classificativa, seriam divididos em duas séries. Os primeiros seis posicionados iriam disputar a fase de campeão com jogos a duas voltas e os últimos quatro disputariam a fase de despromoção com jogos a duas voltas”, sugere Lázaro Oliveira.

Esta eventual reestruturação iria permitir a realização de mais jogos, assim como também permitiria uma maior competitividade, “porque haveria jogos mais disputados e equilibrados entre as melhores equipas”.

Deste modo, argumenta, a liga de Macau “teria igualmente uma maior duração e, como é evidente, quanto mais competitivas forem as competições em Macau, mais benefícios trará à selecção nacional, porque os jogadores terão uma maior rodagem e intensidade de jogo”. 


Nicholas Torrão, capitão da selecção, veste as cores de Macau desde 2011 (Foto: José Giga)
Nicholas Torrão, capitão da selecção, veste as cores de Macau desde 2011 (Foto: José Giga)

Métodos alternativos com balanço positivo

Com a vinda de uma nova equipa técnica, foram introduzidos novos métodos de treino e uma nova mentalidade na selecção de futebol de Macau.

Alguns jogadores que têm estado ao serviço da selecção são unânimes em considerar que “é um orgulho” vestir a camisola verde representativa de Macau. Opinião unânime também sobre o facto de a vinda de um treinador experiente ser um garante de maior qualidade para a equipa.

Filipe Duarte, de 38 anos, joga a central e decidiu abandonar a selecção depois da partida, em casa, diante do Myanmar a contar para qualificação para o Campeonato do Mundo de Futebol.

Fazendo o ponto da situação, Filipe Duarte diz que a selecção “foi evoluindo até à altura do aparecimento da COVID-19 e aí vários jogadores estavam no auge, com cerca de 30 anos de idade”. “Foi pena não ter havido qualquer jogo internacional.”

Além disso, prossegue, “a qualidade da nossa liga também não ajuda a selecção, uma vez que falta competitividade nas provas internas”. O positivo em 2023, que o jogador classifica de “excelente”, foi a série de jogos internacionais que Macau fez.

Sobre a aposta em técnicos do exterior, o defesa é peremptório: “Eles vêm com uma mentalidade completamente diferente. É essencial que tenhamos estes treinadores de fora, acompanhados por uma base de técnicos locais para que estes possam aprender”.

Enquanto uns terminam a sua passagem pela selecção, outros estão no início, como acontece com Vítor Almeida, que só em 2023 começou a jogar na equipa. O também central, de 32 anos, que se estreou no particular com o Myanmar, considera que a mensagem que os técnicos estrangeiros trazem está a ser benéfica para a equipa.

“Nunca tivemos tantos jogos internacionais em tão pouco tempo. É um sinal de que querem dar competição aos jogadores locais”, observa Vítor Almeida.

Experiência e ambição

O avançado Nicholas Torrão, 32 anos, está na selecção desde 2011 e corrobora a opinião de que a “selecção está directamente relacionada com a liga, pouco competitiva, que existe em Macau”.

Nos últimos anos, durante o período da pandemia, Macau perdeu alguns jogadores de uma geração “que podia ter ajudado mais”. Uma geração que tinha 28 anos e agora tem 32 ou 33, “o que é completamente diferente”, frisa Nicholas Torrão.

Com a vinda dos novos treinadores, a selecção disputou “vários desafios internacionais”. “Desde 2011 até agora, fiz cerca de 20 jogos e seis deles em 2023. Nota-se o interesse e o profissionalismo que estes treinadores têm. Trazem, sem dúvida, uma outra visão”, conclui.

Nuno Pereira foi o único futebolista, dos que actuam no exterior de Macau, a ser chamado aos trabalhos da selecção para os dois jogos diante do Myanmar. Nascido no território há 26 anos, o jogador veste a camisola do Imortal Desportivo Clube, no Algarve, e no regresso à equipa considera que Lázaro Oliveira está a fazer um trabalho notável.

Nuno Pereira diz que a equipa tem evoluído de forma positiva (Foto: José Giga)
Nuno Pereira diz que a equipa tem evoluído de forma positiva (Foto: José Giga)

“Notei uma diferença, quando regressei a Macau, na maneira como jogávamos, mais pressionante, com maior agressividade e queríamos ter mais posse de bola, o que não acontecia anteriormente, porque a principal preocupação era defender”, salienta.

“Penso que a associação já deu um grande passo ao contratar para seleccionador um treinador em Portugal com muita experiência e ambição, visto que, no pouco tempo de trabalho, já se notam algumas das suas ideias na forma de jogar da equipa. Há uma melhor organização colectiva a defender, com maior pressão na perda de bola e a atacar com mais posse de bola”, explica Nuno Pereira. O empate com o Myanmar, em casa, “já representa sem dúvida um bom resultado, perante equipas asiáticas mais poderosas”, acrescenta o médio.

Sobre o que é possível fazer para melhorar, Nuno Pereira diz que a condição física será fundamental. “As equipas de Macau continuam a ter dificuldade para treinar, por falta de campos, a que se junta a pouca disponibilidade dos jogadores, por causa dos seus trabalhos ou estudos.”

Um outro aspecto “também muito importante”, assevera, “é a parte mental, embora já se note algumas diferenças desde a entrada do novo seleccionador, que quer mudar a forma de pensar e a ambição dos atletas”. 


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