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Ligação para um futuro sustentável
Revista Macau
Edição nº 88
  • As obras de construção da nova ponte entre a península de Macau e a Taipa estão a decorrer há dois anos (Foto: Direitos Reservados)

  • Serão instaladas barreiras de protecção na nova ligação para reduzir a velocidade do vento no respectivo tabuleiro (Foto: Direitos Reservados)

  • Mapa (Foto: Direitos Reservados)

  • Proposta para quinta ligação (Foto: Direitos Reservados)

  • Ponto de chegada da quarta ponte na Zona A dos Novos Aterros Urbanos, com ligação à ilha artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau (Foto: Direitos Reservados)

  • Para a construção da travessia, estão a ser utilizados elementos de alta resistência (Foto: Direitos Reservados)

  • Ponte Governador Nobre de Carvalho (Foto: Direitos Reservados)

  • Ponte da Amizade (Foto: Leong Sio Po)

  • Ponte de Sai Van (Foto: Cheong Kam Ka)

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Vinte anos após o arranque da construção da Ponte de Sai Van, estão em curso as obras da quarta travessia rodoviária entre a península de Macau e a Taipa. A nova ponte, que deve estar operacional em 2026, vai permitir um descongestionamento do tráfego e ligações mais rápidas entre a Taipa e o resto da Grande Baía

Texto Marta Melo

A primeira estaca da nova travessia rodoviária entre a península de Macau e a Taipa foi colocada a 26 de Agosto de 2020, cinco anos após o projecto ter sido aprovado pelo Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). A obra deverá estar concluída no “prazo de três a quatro anos”, segundo as previsões mais recentes do director da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, Lam Hin San, avançadas em Maio.

A quarta travessia ligará a Zona A dos Novos Aterros Urbanos, na península de Macau, assim como a ilha artificial que aloja o posto fronteiriço da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, à Zona E dos Novos Aterros, perto do terminal marítimo de passageiros do Pac On e do Aeroporto Internacional de Macau, na Taipa. Com 3,6 quilómetros de comprimento, terá uma largura superior à das pontes existentes no território devido ao total de oito vias de trânsito, quatro em cada sentido.

“A primeira ponte de Macau, a Ponte Governador Nobre de Carvalho, tem apenas duas vias; a Ponte da Amizade tem quatro; enquanto a Ponte de Sai Van tem seis vias”, assinala o engenheiro civil Chan Mun Fong, docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Macau. Especializado em engenharia estrutural, Chan Mun Fong acompanhou de perto, enquanto profissional, a construção de duas das três travessias que ligam Macau à Taipa – a Ponte da Amizade e a Ponte de Sai Van.

As obras de construção da nova ponte entre a península de Macau e a Taipa estão a decorrer há dois anos (Foto: Direitos Reservados)
As obras de construção da nova ponte entre a península de Macau e a Taipa estão a decorrer há dois anos (Foto: Direitos Reservados)

Das oito vias de trânsito da nova travessia, seis serão destinadas à circulação de veículos automóveis. As duas vias centrais estarão reservadas para ciclomotores e motociclos. “A existência de mais vias permite uma maior fluidez do trânsito e facilita o socorro em caso de acidentes”, argumenta o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro. A velocidade máxima para a ponte e rampas de acesso será de 80 quilómetros por hora (km/h) e 40 km/h, respectivamente.

Mais segurança durante tufões

A quarta travessia rodoviária será mais segura para circulação durante ventos fortes quando comparada com as pontes existentes. Segundo a informação disponibilizada pela Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP), serão instaladas barreiras na nova ligação que vão reduzir a velocidade do vento no respectivo tabuleiro, inclusive em caso de tufão, possibilitando uma condução em uniformidade de condições com as verificadas em área terrestre.

Quanto à possibilidade de a travessia se manter aberta ao trânsito em situações de sinal n.º 8 de tempestade tropical, tal será decidido pelo regulamento da ponte, que o Governo da RAEM elaborará antes de a ligação entrar em funcionamento. Actualmente, as três pontes do território são encerradas quando está içado o sinal n.º 8 ou superior, sendo o tabuleiro inferior da Ponte de Sai Van aberto ao trânsito durante esse período.

Tendo em consideração que a quarta ligação está a nascer numa área particularmente exposta aos tufões que regularmente afectam Macau, o Centro de Investigação em Engenharia de Vento da Universidade de Hunan foi incumbido de realizar um ensaio em túnel de vento, utilizando um modelo físico da ponte, a fim de avaliar a resistência e as características de vibração da futura infra-estrutura. O estudo realizou-se em finais de 2020 e, segundo uma nota da DSOP, o ensaio permitiu concluir que a “resistência ao vento da ponte cumpre os requisitos” e que as barreiras de protecção alcançam os “objectivos previstos” ao nível do efeito de redução do vento no tabuleiro.

Serão instaladas barreiras de protecção na nova ligação para reduzir a velocidade do vento no respectivo tabuleiro (Foto: Direitos Reservados)
Serão instaladas barreiras de protecção na nova ligação para reduzir a velocidade do vento no respectivo tabuleiro (Foto: Direitos Reservados)

Chan Mun Fong, também director executivo da Sociedade de Consultadoria em Engenharia Civil, Limitada, grupo envolvido em diversas obras públicas na RAEM, identifica como grandes desafios do design e construção da nova travessia a conjugação com a navegação marítima e o tráfego aéreo. Segundo o especialista, existiu “a necessidade de fornecer aberturas adequadas de navegação sob a ponte de e para o Porto Exterior e o Porto Interior”, bem como houve que responder a requisitos do sector da aviação na “limitação da altura da estrutura da ponte”. A necessidade de assegurar a navegação marítima resulta num vão com uma distância de afastamento de 280 metros, que, segundo Chan Mun Fong, é “100 metros mais largo do que o vão máximo da Ponte de Sai Van”.

Na estrutura da nova travessia, o engenheiro e deputado José Chui Sai Peng destaca “a alta estabilidade geral” e “a curva do contorno da estrutura de treliça da ponte principal, que é de forma ondulada”. Nos detalhes técnicos, o engenheiro sublinha ainda o facto de todos os elementos de aço serem de alta resistência, “o que reduz efectivamente o peso da ponte e alinha o perfil”. 

“Durante a construção, é a primeira vez que se usam revestimentos de grande diâmetro em larga escala”, acrescenta.

Mais fluidez, deslocações mais rápidas

A construção da quarta ligação entre a península de Macau e a Taipa é um dos trabalhos prioritários no âmbito do Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau até 2030. A estratégia, que esteve em consulta pública até ao mês passado, quer dar resposta à integração de Macau no desenvolvimento nacional no âmbito das oportunidades criadas pelos projectos da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. Segundo o texto colocado a consulta, para a optimização das ligações rodoviárias, um dos objectivos passa pela “construção da quarta travessia rodoviária marítima Macau-Taipa”.

De acordo com a presidente da Associação dos Arquitectos de Macau, Christine Choi, a quarta ponte “é necessária como infra-estrutura de apoio”, tendo em conta o desenvolvimento futuro da Zona A dos Novos Aterros Urbanos. A arquitecta entende que a construção da nova ligação é uma resposta natural, baseada na realidade local. “Podemos ver que Macau aumentou as pontes de ligação com a Taipa ao longo do tempo, como resultado do crescimento da população e da necessidade de viajar de Macau para a Taipa.”

Ponto de chegada da quarta ponte na Zona A dos Novos Aterros Urbanos, com ligação à ilha artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau (Foto: Direitos Reservados)
Ponto de chegada da quarta ponte na Zona A dos Novos Aterros Urbanos, com ligação à ilha artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau (Foto: Direitos Reservados)

Vizeu Pinheiro considera que a quarta travessia é um “projecto necessário para o desenvolvimento sustentável de Macau, uma vez que se localiza numa zona de aterros na periferia da península de Macau, a Zona A, possibilitando uma ligação directa com a Taipa, perto do aeroporto e resorts [do Cotai], sem ter que interferir no já congestionado tecido urbano da península ou do centro da Taipa”.

No entanto, o impacto da nova travessia irá para além da Zona A dos Novos Aterros Urbanos. Christine Choi lembra que o nível de tráfego actual na Ponte da Amizade já é elevado na maior parte do tempo, o que seria agravado pela Zona A, que, “no futuro, estima-se que acomode cerca de 90 mil habitantes”. “A quarta ponte é necessária para fornecer um sistema de transporte eficiente para aquela zona, para não pressionar a área [da freguesia de Nossa Senhora] de Fátima e a Ponte da Amizade, bem como o ponto de ligação na Taipa”, conclui a arquitecta. 

Para Vizeu Pinheiro, a conexão da nova ponte ao eixo viário que liga com o Posto Fronteiriço das Portas do Cerco “vai permitir ter uma alternativa para o tráfego proveniente da fronteira” com Zhuhai. A nova ponte, acredita o também docente da Universidade de São José, vai garantir uma “maior fluidez” no trânsito, assim como irá diminuir o tempo na ligação entre aquela que é a fronteira mais utilizada do território e os complexos turísticos do Cotai. O que será conveniente, não apenas para os residentes como também para os visitantes, observa José Chui Sai Peng. “A quarta ponte reduzirá efectivamente o tráfego nas travessias existentes e aliviará o congestionamento”, tornando a utilização de sistemas de tráfego inteligente “mais viável”.

Mapa (Foto: Direitos Reservados)
Mapa (Foto: Direitos Reservados)

Nas melhorias do tráfego, Vizeu Pinheiro antevê ainda como positivo o túnel que está previsto para a Colina da Taipa Grande, com acesso à quarta travessia, por ser uma forma de permitir “reduzir os engarrafamentos na Taipa”.

José Chui Sai Peng acredita igualmente que a nova ponte deverá ser, “no futuro, uma parte importante da rede de transporte regional”, pelo facto de servir para ligar a ilha artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau à Taipa. Neste contexto, acrescenta, o sector da logística será um dos que irá beneficiar com a nova ligação rodoviária no território, bem como o dos transportes públicos regionais.


Para a construção da travessia, estão a ser utilizados elementos de alta resistência (Foto: Direitos Reservados)
Para a construção da travessia, estão a ser utilizados elementos de alta resistência (Foto: Direitos Reservados)

Da aprovação à concretização

O projecto da quarta travessia rodoviária entre a península de Macau e a Taipa foi aprovado em 2015 pelas autoridades locais. As projecções iniciais apontavam para uma circulação diária de 70 mil a 80 mil veículos na nova ponte e uma redução de até 20 por cento no volume de tráfego nas pontes da Amizade e de Sai Van. Em 2018, o Governo Central deu luz verde ao projecto, após quase dois anos a estudar a viabilidade da infra-estrutura.

Em cima da mesa chegou a estar a possibilidade de a travessia ser feita em túnel ao invés de ser construída uma nova ponte. Concluiu-se ser uma opção menos vantajosa por impossibilitar a ligação com a ilha artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e a criação de uma via exclusiva para motociclos e ciclomotores. A opção por um túnel significava ainda mais tempo de construção e custos mais elevados: cerca do dobro, tanto para a construção como para a manutenção da infra-estrutura.


Proposta para quinta ligação (Foto: Direitos Reservados)
Proposta para quinta ligação (Foto: Direitos Reservados)

Quinta ligação a caminho?

Apesar de a quarta ponte entre a península de Macau e a Taipa estar ainda em construção, as autoridades já discutem a possibilidade de desenvolver uma quinta ligação. Um estudo de viabilidade nesse sentido foi conduzido entre 2016 e 2017 pelo Governo liderado por Fernando Chui Sai On. Em cima da mesa estava uma travessia através de um túnel subaquático, com entrada, na península, junto aos hotéis Mandarin Oriental e MGM Macau, no NAPE, e saída, na Taipa, na zona entre as pontes Governador Nobre de Carvalho e da Amizade.

Passados cinco anos, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, no cargo desde 2014, admite que a probabilidade de a ligação avançar “é de cinquenta por cento”. “Não nos esquecemos desse projecto, mas não sabemos se devemos avançar. É muito complexo, principalmente a ligação perto do Hotel MGM Macau”, reconheceu o governante, durante a apresentação do documento de consulta do “Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau (2021-2030)”, em Maio.

Na opinião de Francisco Vizeu Pinheiro, é “evidente” a mais-valia de uma ligação directa entre a zona do NAPE e o centro da Taipa, que é feita, nos dias de hoje, pela “periferia de Macau, na zona do terminal marítimo do Porto Exterior ou na Barra”. Para o arquitecto, “quanto mais directas forem as ligações, menos tempo se gasta em transportes e menos poluição é produzida em zonas urbanas”.

Apesar de considerar que esta ligação pode vir a ser “conveniente”, o director da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, Lam Hin San, alerta que “não queremos desperdiçar o nosso dinheiro e depois trazer mais engarrafamentos para a zona central” de Macau.

Uma potencial quinta ligação, na opinião de Vizeu Pinheiro, podia “ter a vantagem adicional de libertar a Ponte Governador Nobre de Carvalho para conversão em zona pedonal”. O que, diz, poderia contribuir para “a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, e, no futuro (pós-pandemia), melhoraria a oferta turística de Macau”. 


Um território, dois lados, três pontes

A importância das pontes para o desenvolvimento de Macau está espelhada na própria bandeira do território. No emblema da Região Administrativa Especial de Macau, sob a flor de lótus branca, encontram-se uma linha branca, representando uma ponte, e, por baixo desta, quatro linhas brancas, simbolizando a água do mar. As pontes do território têm também servido, ao longo das últimas décadas, como motivo de ilustração nas notas de patacas, numa clara alusão ao seu relevo económico a nível local.

Ponte Governador Nobre de Carvalho (Foto: Direitos Reservados)
Ponte Governador Nobre de Carvalho (Foto: Direitos Reservados)

Ponte Governador Nobre de Carvalho
Inauguração: 1974

“Para toda a população portuguesa e chinesa, a ponte Macau-Taipa é o símbolo do futuro de Macau.” Era assim que o governador Nobre de Carvalho, em Outubro de 1969, anunciava a construção da primeira travessia rodoviária entre a península de Macau e a ilha da Taipa. Era o início do fim das deslocações de barco entre os dois lados, e o pontapé de saída para um salto enorme no desenvolvimento económico e social da Taipa (e, eventualmente, de Coloane).

As obras começaram em 1970. Projectada pelo engenheiro português Edgar Cardoso, a infra-estrutura tem 2569,8 metros de extensão e, na altura, foi considerada a ponte contínua de betão armado pré-esforço mais longa do mundo.

A travessia é inspirada nas tradicionais pontes asiáticas de bambu e a sua forma evoca o dorso de um enorme dragão, com a cabeça no Casino Lisboa e a cauda no Monumento da Taipa. Pela ponte circulam, hoje, apenas transportes públicos, sendo a única travessia onde é permitida a circulação pedonal. 

Ponte da Amizade (Foto: Leong Sio Po)
Ponte da Amizade (Foto: Leong Sio Po)

Ponte da Amizade
Inauguração: 1994

Com 4700 metros de extensão, liga a zona norte do Reservatório, junto ao Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Exterior, à zona do Pac On, na Taipa, perto do Aeroporto Internacional de Macau (e agora do Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa, oficialmente inaugurado em 2017). A Ponte da Amizade tem como função interligar os três tipos de vias de comunicação: marítima, rodoviária e aérea.

A construção começou em 1990. Os dois pontos mais elevados estão a 37 metros do nível da água. A ponte é suspensa por tirantes, construída com vigas e em betão, com uma forma ondulada.

A abertura da ponte ficou marcada por um desfile de dança do dragão envolvendo mais de dois mil figurantes, com Macau a estabelecer um novo recorde do mundo nesta modalidade. 

Ponte de Sai Van (Foto: Cheong Kam Ka)
Ponte de Sai Van (Foto: Cheong Kam Ka)

Ponte de Sai Van
Inauguração: 2004

Liga a zona sudoeste da península de Macau, junto ao Lago Sai Van, à zona noroeste da ilha da Taipa. A sua construção teve início em Outubro de 2002. A ponte abriu ao público em Janeiro de 2005, embora a inauguração tenha acontecido a 19 de Dezembro do ano anterior, pelo então Presidente da República Popular da China, Hu Jintao.

Tem uma extensão de 2200 metros e é a primeira ponte suspensa por cabos do território. Possui dois tabuleiros, sendo o inferior destinado ao tráfego rodoviário em caso de sinal n.º 8 ou superior de tempestade tropical, quando o tabuleiro superior é encerrado, a par das pontes Governador Nobre de Carvalho e da Amizade. O tabuleiro inferior da Ponte de Sai Van está actualmente a ser preparado para também receber a futura ligação do Metro Ligeiro entre a península de Macau e a Taipa.

Os dois pilares principais da ponte têm o formato da letra “M”, a primeira letra da palavra “Macau”, assemelhando-se também ao algarismo romano “III” e árabe “3”, para assinalar o facto de ser a terceira ponte de Macau. A infra-estrutura possui uma forma arqueada, simbolizando duas pétalas de uma flor de lótus.


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